Frases

"Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens".
Fernando Pessoa

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

A (re) VOLTA do Dr. Cipó

A energia do som do Dr. Cipó contagiou o público na primeira noite do Floripa Instrumental, na sexta, 21. Foto Pablo Corti

           A (re) VOLTA do Dr. Cipó


Foi do além, foi intenso, pulsou, eles não podem mais ficar tanto tempo sem se apresentar. Essas foram algumas das conversas ao pé do ouvido na praça da Freguesia depois da (re) VOLTA do Dr. Cipó, na abertura do Floripa Instrumental, dia 21, no Ribeirão da Ilha. Nem a falta de energia por alguns segundos tirou a brisa sonora, já que o baterista Endrigo Bettega mandou um acústico que levantou o público.


Guinha Ramires (violão), BB Kramer (acordeon), Endrigo Betega (bateria),  Ronaldo Saggiorato, o Gringo, (contrabaixo) e Mário Conde (guitarra, violão tenor e bandola) mandaram ver no choro, no jazz, na música experimental, regional e muito mais. Mesmo depois de sete anos sem se apresentar, eles mostraram que tem química, mais do que isso: seus ritmos são criativos, como suas composições e arranjos.
 
Guinha, Saggiorato, Bettega, Kramer e Conde, o entrosamento dos talentos do Dr. Cipó.
                                                                                                                   foto Paulo Rodrigues/Dj Gajeta.



O tema de abertura Pra Lucas, de Bebe Kramer em homenagem ao filho que estava na platéia, deu o tom de como seria a noite. Depois, muitos improvisos e belas canções como Coisas, de Moacir Santos, Simpatia, de Guinha Ramires, Maresia. Uma quebraceira e tanto, com uma ótima conexão com o público, que vibrou inúmeras vezes, mostrando intimidade com o Dr. Cipó. O pedido que fica? Guris, não fiquem tanto tempo longe de seu público. A Nossa Senhora da Lapa, agradece!

sábado, 22 de novembro de 2014

Trio Curupira sobe ao palco do Floripa Instrumental neste sábado



Grupo paulistano faz show gratuito na praça do Ribeirão da Ilha, com início às 21 horas

Quem sobe ao palco na segunda noite do Floripa Instrumental, no Ribeirão da Ilha, é o grupo paulistano Trio Curupira, que traz na bagagem uma sonoridade permeada de miscigenações culturais existentes no Brasil. Composto pelos músicos paulistanos André Marques (piano, escaleta, flautas, rabeca, percussão), Fábio Gouvêa (baixo, guitarra, violão, flautas, percussão) e Cleber Almeida (bateria, percussão, gaita, escaleta, cavaquinho, viola caipira), o show vai apresentar o repertório do CD Janela, com composições próprias e gravado no ano passado no Auditório do Ibirapuera.

Esse trabalho, segundo o produtor Capucho, já foi apresentado em festivais pelo Brasil, como o Choro Jazz, com ótima aceitação. Entre as musicas do repertório estão Conversa de Matuto, Quase Nada, Albertinho de Fole Novo. No palco três homens e diversos instrumentos – piano, bateria, baixo, flautas, cavaquinho, guitarra, percussão, escaleta.


Depois do show do Trio Curupira é a vez de Arnou de Mello Trio e depois muita Jam Sessions, com sobe e desce de músicos do palco e, muitas vezes, formações nunca imagináveis. Evento tem o patrocínio, via Lei de Incentivo à Cultura, da Tractebel Energia, e apoio da Eletrosul e Fundação Franklin Cascaes.

DOMINGO - No dia do encerramento do Floripa Instrumental a música inicia mais cedo, a partir das 17 horas, com a centenária e nativa Banda da Lapa. Depois tem a Roda do Som, encontro inédito entre os músicos Rogério Caetano (violão 7 cordas), Arthur Bonilla (violão 7 cordas), Nailor Proveta (sax e clarinete), Arismar do Espírito Santo (baixo, guitarra, bateria e o que mais vier), e o bandolim da Ilha, Geraldo Vargas com os chorões  Marcos Portella, Fabrício, Rafael Gaucer, Bernardo Sens.




 
Rogério Caetano que participa do Floripa Instrumental pela primeira vez está desde sexta no Ribeirão. "Vou fazer algumas músicas próprias, como Rosa e Cora, Bate Bola, Valsa D'Yamandu e Xote das Sete, e também algo do Baden Powel, talvez Samba em Prelúdio", confessa. Depois entram na roda musical Arthur Bonilla, Arismar do Espírito Santo, Nailor Proveta e Bebe Kramer para alguns clássicos do choro. Vem pro Ribeirão!






quarta-feira, 19 de novembro de 2014

A volta do Dr. Cipó


Gaiteiro de Vacaria (RS), Bebe Kramer ganhou o mundo com sua sonoridade original, foto de Pablo Corti
BEBE KRAMER
“Isso vai ser um reencontro com a originalidade"

Entre uma apresentação e outra de Norte a Sul do Brasil,  Bebe Kramer achou um lugarzinho na sua agenda para bater um papo, via e-mail, com a jornalista Duda Hamilton. Ele não vê a hora de estar reunido com os amigos o Dr. Cipó, já que não se encontram há mais de seis anos.  Guinha Ramires, Bebe, Mario Conde, Gringo Saggiorato e Endrigo Betega, abrem o Floripa Instrumental, dia 21 de novembro, às 21 horas. Acompanhe abaixo os principais momentos da entrevista.

Bebe Kramer o acordeon, gaita, sanfona do Dr. Cipó,
 foto Pablo Cort
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Como você chegou ao Dr. Cipó?
Bebe Kramer – Cheguei em Floripa, com meus 19 pra 20 anos, e comecei a freqüentar a cena instrumental da cidade. Conheci o Gringo e o Guinha, no Café dos Araçás, na Lagoa da Conceição. Foi lá que também conheci o Endrigo e o Mario, toquei com eles ali. Fomos convidados para uma apresentação no Original Café, Curitiba. Assim nascia o Dr. Cipó. Logo depois, o Guinha foi para Viena, e quando retornou, pois não aguentou ficar longe da Lagoa, o chamamos pra integrar o grupo que já estava mais ou menos afiado. Guinha topou e imediatamente arrumamos o nome do grupo: Dr. Cipó.


O que vocês tocavam?
Bebe Kramer –  Nosso repertório era de compositores brasileiros, como Edu Lobo, Chico Buarque, Tom Jobim, Gilberto Gil, Dominguinhos, mas também gostávamos de “gauchar” interpretando Mercedita, músicas de Piazzola e, claro, Beatles. Nosso grupo sempre recebeu influências da música do mundo.
Bebe, Mário Conde, Endrigo Betega, Guinha Ramires e Ronaldo "Gringo"Saggiorato, no último encontro em 2008, no Teatro do Sesc de São Paulo, produzidos por Roberto Bruzadin, foto de Silvio Auricchio 
O que esperar desse reencontro no Floripa Instrumental, dia 21 de novembro?

Bebe Kramer – Esse reencontro vai reacender a chama desse grupo, que sem falsa modéstia, considero um dos grupos mais importantes que apareceram no Brasil nos últimos anos, pela energia, pela originalidade, tendo influenciado muitos músicos da nova geração. Somos uma espécie de representantes da música feita no Sul do país e que pode tranquilamente  transitar em qualquer festival de música do mundo. Já andei postando alguma coisa aí pelas redes sociais e recebi muito carinho de gente que está com saudade e, inclusive, virão de outras cidades e estados pra nos ver. Isso nos dá muita energia e vontade de reativar esse grupo de amigos que tanto se quer bem e se respeita.

domingo, 16 de novembro de 2014

Se a música é um santo remédio recomendamos doses de Dr. Cipó


Quinteto Dr. Cipó - Ronaldo "Gringo"Saggiorato (baixo), Mario Conde (guitarra),
Guinha Ramires (violão),  Bebe Kramer (acordeon) e Endrigo Betega (bateria)
Foto Divulgação


Na abertura do Floripa Instrumental, dia 21, às 21 horas, na Freguesia do Ribeirão da Ilha, os cinco integrantes do Dr. Cipó – Mario Conde, Endrigo Betega, Bebe Kramer, Ronaldo “Gringo“ Saggiorato e Guinha Ramires - voltam a se encontrar depois de quase seis anos. Para relembrar como tudo começou, na Lagoa da Conceição, em Florianópolis, “Gringo” bate um papo com a jornalista Duda Hamilton e confessa que a música é um santo remédio, como as ervas do Dr. Cipó. Quer saber o motivo do nome? Leia abaixo.

 
Gringo Saggiorato morou na Lagoa da Conceição e tinha
um duo com Guinha Ramires, foto Pablo Corti
Papo com Gringo
Como foi o início do quinteto?
Gringo - Tudo começou na Lagoa da Conceição, Guinha (violão) e eu no baixo, um duo instrumental na Florianópolis dos anos 1996/1997. Nos encontramos, não lembro onde, com o Mário e o Endrigo, que já faziam música instrumental em Curitiba, e eles nos convidaram para tocar lá. Entre idas e vindas, surgiu o Bebe Kramer, com seu talento inestimável e perseverança. Assim surgiu o Dr. Cipó.

Por que Dr. Cipó?
Gringo - Vou tentar resumir. Eu sou de Passo Fundo, o Guinha Ramires de Carazinho. E lá em Passo Fundo, quando éramos jovens, existia um curandeiro, o Dr. Cipó, que vendia ervas medicinais e expunha as ervas na calçada, numa das principais ruas da cidade. Era muito conhecido e respeitado. Um compositor nosso amigo, o Raul Boeira escreveu uma linda canção em homenagem ao Dr.Cipó, com uma letra fantástica citando todas as ervas que ele vendia. Na hora de escolhermos o nome, creio que deve ter sido ideia do Guinha, nos lembramos dessa história, e ficou valendo o Dr. Cipó, como nome do grupo, relacionando toda a história com a idéia de que a música também é um santo remédio. 



sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Atrás dos sons do Floripa Instrumental

Floripa Instrumental atraca no Ribeirão da Ilha

 nos dias 21, 22 e 23 de novembro


Gratuito nos três dias, evento está consolidado no calendário musical da Ilha, e tem como patrocinadora a Tractebel Energia, via Lei Rouanet, e apoiadores Eletrosul, Fundação Catarinense de Cultura e Ação Social e Cultural Nossa Senhora da Lapa.


 TRIO CURUPIRA é composto pelos músicos paulistanos André Marques (piano, escaleta, flautas, rabeca, percussão), Fábio Gouvêa (baixo, guitarra, violão, flautas,  
percussão)  e Cleber Almeida (bateria, percussão, gaita, 
escaleta, cavaquinho,   viola caipira).  Grupo vai apresentar uma sonoridade 
permeada de miscigenações  culturais existentes no Brasil - foto Divulgação 
A volta do Dr. Cipó depois de oito anos: Saggiorato (baixo), Mario Conde (guitarra), Guinha (violão) BB Kramer (acordeon) e Endrigo (bateria) 
Foto Divulgação



Grupo Dr. Cipó, Trio Curupira, Rogério Caetano, Arthur Bonilla, Arismar do Espírito Santo, Nailor Proveta, Neto Fernandes, Arnou de Melo, entre outros músicos ancoram no palco do Floripa Instrumental, dias 21, 22 e 23 de novembro, na Freguesia do Ribeirão da Ilha, tendo como cenário a Igreja, o casario e a praça. Dali ecoam sons e tons que vão do chorinho ao jazz, passando pela MPB, bossa nova, regionalismos e muito improviso. Encontros inéditos no palco, como dos dois violões 7 cordas de Rogério Caetano e Arthur Bonilla, e reencontros como o do Dr. Cipó, que há quase 10 anos não se reúnem, fazem desse evento um porto seguro da cumplicidade musical entre 
instrumentistas e público.

Rafael Calegari (baixo), Neto Fernandes (bateria)
 e Uiliam Pimenta (teclados) do Rivo Trio,
foto  Felipe Nascimento
Na sexta-feira, três shows. O Dr. Cipó, com Guinha Ramires (violão), BB Kramer (acordeon), Engrigo Betega, (bateria) e Mário Conde (guitarra, violão tenor e bandola) promete choro, samba, jazz, música experimental, regional e muita mais, sempre com ritmo e criativas composições e arranjos. 
Depois é a vez dos catarinenses Rivo Trio e Cássio Moura Quarteto na abertura da Jam Sessions.

No sábado, às 21 horas, o Trio Curupira, composto pelos músicos paulistanos André Marques (piano, escaleta, flautas, rabeca, percussão), Fábio Gouvêa (baixo, guitarra, violão, flautas, percussão) e Cleber Almeida (bateria, percussão, gaita, escaleta, cavaquinho, viola caipira), apresenta sua sonoridade permeada de miscigenações culturais existentes no Brasil. O catarinense Arnou de Melo sobe ao palco e depois é jam sessions para todos os gostos. Dali saíram encontros inusitados como Yamandu Costa no baixo e Jorginho do Trumpete no pandeiro, ou ainda, o rodízio de Arismar do Espírito Santo com os instrumentos do palco.

O bandolim de Geraldo Vargas, foto divulgação





Arthur Bonilla, violão de 7 cordas, foto Eduardo Rocha
No domigo, o som inicia mais cedo, às 17horas com a apresentação da nativa e centenária Banda da Lapa, e logo depois o encontro inédito dos músicos Rogério Caetano (violão 7 cordas), Arthur Bonilla (violão 7 cordas), Nailor Proveta (sax e clarinete), Arismar do Espírito Santo (baixo, guitarra, bateria e o que mais vier), e o bandolim da Ilha, Geraldo Vargas com os chorões  Marcos Portella, Fabrício, Rafael Gaucer, Bernardo Sens.

“Já estive com o Rogerinho em rodas de música no Rio de Janeiro, mas nunca no palco. Isso vai ser uma sonzeira de 14 cordas e muito mais”, anima-se Bonilla. É finaleira, horas de chorões, chorinho e outros ritmos da música instrumental do mundo.

Rogério Caetano, violão 7, samba e choro e worshop no
 sábado dia 22 no Ribeirão na Ilha, foto Divulgação



Arismar do Espírito Santo e seus múltiplos talentos, foto Divulgação

Nailor Proveta no choro de domingo às 18horas, foto Pablo Corti

sábado, 18 de outubro de 2014

Lei Anticorrupção pode acabar com o “jeitinho brasileiro”

Aquela velha lei do jogador tricampeão Gerson, de tirar vantagem em tudo, está com seus dias contados, depois que entrou em vigor, em 29 de janeiro, a Lei Anticorrupção, conhecida como Lei da Empresa Limpa. Quem defende o fim do “jeitinho brasileiro” é o advogado Leonardo Ruiz Machado, especialista no assunto. Para ele, daqui para frente vai ser valioso ser honesto, fazer parte de uma empresa ética e querer extirpar o câncer da corrupção do Brasil.
Antes da Lei Anticorrupção entrar em vigor, não havia no Brasil previsão de responsabilidade da pessoa jurídica por atos de corrupção e, por essa razão, muitas empresas não se atentavam a tais práticas.
Para saber como a lei será aplicada e quais as mudanças que ela vai provocar, a revista BOAS NOVAS, por meio da jornalista Duda Hamilton, conversou com Leonardo Machado, logo após palestra dele aos diretores e gerentes da Tractebel Energia em evento realizado no dia 24 de março na sede da Companhia, em Florianópolis.

Boas Novas – Quais as principais mudanças que esta Lei Anticorrupção vai trazer para o Brasil?
Leonardo Ruiz Machado – A Lei 12.846/2013, que está sendo chamada de Lei Anticorrupção, é também conhecida como Lei da Empresa Limpa e tem como principal objetivo mudar o comportamento das empresas brasileiras em relação ao combate à corrupção e à lisura no trato com a administração pública.
Com foco na responsabilidade da pessoa jurídica, a lei traz novos conceitos jurídicos e sanções severas para os casos de violação. E para minimizar os riscos destas penalidades as empresas precisarão prestar mais atenção na forma de se relacionar com a administração pública, nacional e estrangeira.
A empresa que realmente quiser se adequar à nova lei deverá ter um olhar mais cuidadoso para o seu negócio, especialmente com relação ao terceiro contratado para intermediar seus interesses perante o poder público, garantindo que seus controles internos alcancem não apenas seus funcionários, mas também seus prestadores de serviço e parceiros de negócio.


BN – Estamos preparados para a Lei Anticorrupção?
L.R.M – Segundo pesquisa recentemente publicada pela empresa de consultoria em gestão de riscos corporativos ICTS, realizada com 60 corporações com faturamento anual acima de R$ 1 bilhão, 42% das consultadas se dizem razoavelmente preparadas para a nova lei. As empresas que não se consideram nada preparadas representaram 12%, as que se consideram muito preparadas representaram 28% e as que se consideram totalmente preparadas totalizaram apenas 18%. Antes de a Lei Anticorrupção entrar em vigor, não havia no Brasil previsão de responsabilidade da pessoa jurídica por atos de corrupção e, por essa razão, muitas empresas não se atentavam a tais práticas.
Empresas que já estão sujeitas à lei norte-americana anticorrupção, conhecida como US Foreign Corrupt Pratices Act ou FCPA, em geral, deveriam estar mais preparadas para lidar com a nova lei. Devemos lembrar que a Lei 12.846/2013 não trata apenas de corrupção, na medida em que dispõe sobre a responsabilidade objetiva da pessoa jurídica, na esfera civil e administrativa, por atos praticados contra a administração pública nacional ou estrangeira, ou seja, o ato de fraudar licitações e contratos com entes governamentais, por exemplo, mesmo que não haja o pagamento de suborno para autoridades públicas, também poderá ser sancionado pela Lei 12.846/2013.

"Não há corrupção sem que haja a figura do corruptor. E este será o novo foco do combate".

BN – Quem vai aplicar a Lei Anticorrupção?
L.R.M – No âmbito civil caberá ao Ministério Público a propositura da competente Ação Civil Pública perante o Poder Judiciário para que eventuais sanções com base na nova lei sejam aplicadas. Já no âmbito administrativo a definição da autoridade competente é, sem dúvida, o aspecto que traz mais insegurança. Nos casos em que empresas brasileiras praticarem atos lesivos contra a administração pública estrangeira, a autoridade competente será a Controladoria Geral da União (CGU).
No entanto, nos casos ocorridos no Brasil, não existe definição de uma única autoridade que seja competente para aplicar a lei em todas as situações. Como regra geral, a lei estabelece que sua aplicação caberá à autoridade máxima de cada órgão ou entidade pública lesada, ou seja, a competência será definida caso a caso. A não especificação de um único órgão para a sua aplicação no âmbito administrativo, tal como é o Conselho Administrativo de Defesa Econômica no que tange à lei concorrencial, gera insegurança não só jurídica, mas também política, uma vez que a lei poderá ser utilizada como mecanismo de pressão e manobra perante a opinião pública.

Advogado Leonardo Ruiz Machado



BN – Uma vez que os atos ilícitos já são crimes previstos no arcabouço legal brasileiro, qual a grande novidade da Lei Anticorrupção?
L.R.M – As leis anteriores previam como crimes de corrupção os atos praticados somente por pessoas físicas. A Lei Anticorrupção, por sua vez, inova trazendo a responsabilidade objetiva da empresa por atos praticados contra a administração pública, dentre eles o ato de prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente, vantagem indevida a agente público, ou a terceira pessoa a ele relacionada.
É bem verdade que já existia lei específica em relação a outras condutas definidas como ilícitas pela Lei Anticorrupção, como a fraude a licitações, por exemplo. Contudo, a inovação em relação à necessidade de provar apenas o benefício obtido pela empresa, que é decorrente da chamada responsabilidade objetiva, traz à nova lei roupagem bem mais contundente do que aquelas já existentes.
Importante enfatizar que esta chamada responsabilidade objetiva não necessita de prova nem da intenção de corromper e nem mesmo de que o ato tenha sido praticado pelos funcionários da empresa. Basta apenas a prova do benefício econômico recebido indevidamente, isto é, a empresa poderá ser responsabilizada, inclusive, nos casos em que um terceiro que atua em seu nome perante o poder público cometa um ato lesivo, assim definido pela lei, mesmo sem que a empresa tenha participado para que isso ocorresse ou, pior, tivesse conhecimento do ocorrido.

BN – Qual a sua percepção? A Lei Anticorrupção centra-se na aplicação do poder inibitório de aplicação de penas pesadas ou de demonstrar que vale a pena implantar um programa de compliance para prevenir a prática de atos contra a administração pública?
L.R.M – A lei foi criada com o principal objetivo de combater a corrupção e trouxe estes dois pontos como aspectos complementares. Se por um lado as multas previstas são pesadas, podendo chegar a até 20% do faturamento bruto da empresa livre de impostos, estas multas podem ser diminuídas se as empresas demonstrarem que implementaram, de boa-fé e efetividade, programas de compliance antes da prática do ato lesivo.
Pela experiência verificada em outros países, leis com a mesma envergadura têm como alvo grandes empresas envolvidas em grandes escândalos e, ao que parece, o mesmo deve acontecer por aqui. 
A Lei 12.846/2013 veio para mudar a forma de fazer negócios que, infelizmente, em alguns casos ainda é influenciada pelo “jeitinho brasileiro” e por práticas que, embora não muito louváveis, ainda são aceitas por uma parcela da nossa sociedade. Mas as coisas estão mudando. E mudança de cultura não se faz da noite para o dia. É um processo de adaptação a uma nova realidade que depende de todos os atores envolvidos, em especial, as empresas socialmente engajadas e dispostas a combater este mal no seu cotidiano dos seus negócios.
De acordo com a CGU, não há corrupção sem que haja a figura do corruptor. E este será o novo foco do combate.

BN – Em sua opinião qual o maior problema da Lei Anticorrupção? Alguns criticam que ela não atinge o agente estatal. Outros acreditam que penaliza só um lado, a empresa. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
L.R.M – Cada lei tem seu próprio foco de atuação e um bem jurídico a ser tutelado. No caso do agente estatal, a sua punição por qualquer ato lesivo ao patrimônio ou interesse público já estava e continua prevista no Código Penal, nas leis que se aplicam aos servidores públicos e na lei de improbidade administrativa e de licitações. Ou seja, já existem meios jurídicos para punir funcionários públicos que praticam a corrupção. Faltavam meios eficazes para responsabilizar e punir a corrupção praticada por pessoas jurídicas. Antes da vigência da nova lei, não era possível com base no ordenamento jurídico brasileiro punir efetivamente as empresas envolvidas em práticas de corrupção. E foi justamente esta lacuna que a nova lei veio suprir.

BN – A Lei se aplica de uma padaria até uma multinacional. Por quê? Isso é positivo?
L.R.M – A corrupção é um câncer social que está presente no dia a dia da sociedade. A Lei 12.846/2013, embora possa ser aplicada sem distinção para empresas de pequeno, médio e grande porte – antes de tudo – foi desenhada para responsabilizar e punir as empresas que fazem uso de um modelo de negócio pernicioso, calcado em corrupção e fraude em detrimento da administração pública, isto é, dos entes responsáveis por administrar o bem comum.
Pela experiência verificada em outros países, leis com a mesma envergadura têm como alvo grandes empresas envolvidas em grandes escândalos e, ao que parece, o mesmo deve acontecer por aqui. No entanto, não faria sentido estabelecer um parâmetro de alcance da lei com base no tamanho da empresa. Quando o assunto é integridade, não se pode falar em flexibilização do conceito.
O que a lei traz – e isto é muito positivo – é a possibilidade de aplicação de condicionantes para as sanções de acordo com a gravidade da infração, a vantagem auferida ou pretendida pelo infrator, o grau de lesão ou perigo de lesão, o efeito negativo produzido pela infração e a situação econômica do infrator.

BN – Em que país e por que foi criada a primeira Lei Anticorrupção?
L.R.M – O crime de corrupção sempre esteve presente em praticamente todas as legislações penais ao redor do mundo, porém apenas indivíduos respondiam pelo crime. A grande novidade deste tipo de legislação se dá pela responsabilidade da pessoa jurídica envolvida no ato de corrupção. E quando se fala na primeira lei a responsabilizar a empresa por atos de corrupção, identificamos a Lei Norte-americana de Práticas Corruptas no Estrangeiro, conhecida como FCPA, criada em 1977 nos EUA, após escândalos em torno da renúncia do ex-presidente Nixon em 1974 e do envolvimento de uma empresa americana em pagamentos de suborno para autoridades públicas no Japão em 1976.


sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Uma viagem sonora pelo mundo da música

Renato Borghetti e Daniel Sá os convidados da segunda noite, com os instrumentistas da Ilha - Fernando, Guinha, Pablo, Arnou, Tuco, Montano e Alegre foto by Kátia Klock
Se na primeira noite a viagem pelo mundo da música do Acústico Brognoli foi surpreendente com Hermeto Pascoal, na segunda, os sons da banda instrumental estava como a Seleção da Alemanha, passes certeiros, dribles intensos e muito vigor na execução das músicas. Ou seja, se Fernando Sulzbacher (violino); Pablo Greco (bandoneon); Tuco Marcondes (viola portuguesa e citara); Carlos Schmidt (bombardino e trombone); André FM (percussão), Alegre Corrêa (guitarra elétrica e arranjos); Arnou de Melo (baixo acústico e elétrico); Luis Gama, o Pelé (percussão), Mariano Siccardi (piano), Nicolas Malhome (percussão); Richard Montano (bateria) e Dudu Fileti (voz) e Emília Carmona (voz) fizeram na quarta-feira uma partida de campeonato, na quinta eles subiram ao palco para decidir a final.

Na primeira noite a mágica do som de Hermeto Pascoal, uma
 lenda instrumental da música brasileira, foto Pablo Corti
Mais à vontade, numa sintonia fina, com uma forte pegada e boas improvisações e solos, esses talentosos instrumentistas mostraram a intensidade da música que se faz hoje em Florianópolis. Muitos deles não são daqui, mas vieram de diferentes partes do País e do Mundo para ancorar nesta Ilha de tons e sons, entre eles Guinha Ramires, Alegre Correa, Pablo Greco, Mariano Siccardi, Arnou de Melo.
Dividido em cinco atos, a primeira parte do espetáculo ficou muito bem costurada, com a entrada dos instrumentos aos poucos e com vozes gravadas anunciando a próxima viagem sonora. Pontos altos o arranjo de Alegre Correa para Eleanor Rigby, dos Beatles, executada na citara com percussões, bateria, baixo, violão e guitarra; e o Ato 2 Fusion Rio da Plata, com clássicos do tango e da milonga e ainda a voz de Emília Carmona, que mandou bem no espanhol.
Quatorze músicos no palco e a pegada da milonga, do vanerão e do chamamé Mercedita, foto Pablo Corti.

A segunda noite contou ainda com os convidados especiais, Renato Borghetti e Daniel Sá (violão), velhos conhecidos de Alegre Correa e Guinha Ramires, com quem lá na década de 1980 viajavam para se apresentar em festivais e shows pelo Rio Grande do Sul e também no exterior. E para não perder a oportunidade, o quarteto voltou a se reunir para executar Barra do Ribeiro, composição de Guinha Ramires, que Borghettinho não tira do repertório. Aqui, uma cumplicidade e um diálogo instrumental que só velhos amigos sabem interpretar. Depois, acompanhado do violão inconfundível de Daniel Sá, o homem da gaita de oito baixos abriu o fole em Sem Vergonha (Edson Dutra e Valdir Pinheiro); KM 11 (Tracito Coco Marola) e Redomona (Os Serranos).

Mais uma vez Borghetinho chama ao palco Alegre e, em trio – gaita, guitarra e violão – tocam Sétima do Pontal (Borghetti e Veco Marques), na próxima música Laçador, composição do guitarrista, Guinha volta ao palco para  uma conversa animada entre os quatro instrumentos.  O público, até então participante só com aplausos, resolveu acompanhar Dudu Fileti na canção Felicidade, de Lucipinio Rodrigues, numa improvisação que fez também Alegre Correa soltar a voz na tradicional música Luar do Sertão, de Gonzagão.
Mercedita, clássico chamamé, executado por Renato Borghetti, Daniel Sá e diverso e talentoso grupo de musicos da Ilha, foto by Kátia Klock. 

Se o vanerão, a milonga e a rancheira corriam soltas, o final foi com os 16 músicos no palco, numa execução inusitada do clássico chamamé Mercedita, de Ramón Rios, onde todos os instrumentos tiveram sua vez para o solo, num deleite sonoro de improvisações, que fez o público mais uma vez aplaudir sem parar. No outro bis e para fechar de forma afinada a 10 edição do Acústico Brognoli, Milonga Missioneira.

Desenhado para se ouvir todos os sons do mundo, o Acústico Brognoli alcançou seu objetivo nas duas noites: fazer com que a música ali executada levasse o público a lugares incríveis, seja com um solo de guitarra, o som do bandoneon, da citara, da percussão…Parabéns ao produtor musical, Nani Lobo que soube formar o time de instrumentistas, às produtoras Eveline Orth e Nilva Camargo, e a Brognoli, que há 10 anos investe nesse evento, hoje referência no âmbito cultural da Ilha.

 Duda Hamilton
Jornalista