A Praia da
Armação faz 240 anos hoje, quinta, 26 de julho de 2012, e me deparo com as lembranças de 22
atrás quando aqui cheguei. Com ares de aldeia, a Armação me ganhou pelo mar,
por ter mais nativos do que vindiços e, principalmente, pelas marcas visíveis do
passado por todos os lados.
Pouco antes de
chegar no canto direito da praia, ainda teima em aparecer, de vez em quando,
uma pedra lítica. Mais adiante surgem dois pilares construídos com óleo de
baleia, é o que restou da antiga casa de depuração do óleo, da mesma época da
Igreja de Sant’Ana, datada de 1772. Por muitos anos o lugar experimentou um
forte crescimento por ter como negócio a matança de baleias, cujo óleo foi usado
durante anos na construção civil para fazer a liga, mais ou menos a função do
cimento hoje, e também como combustível para iluminação.
No verão, era
comum conferir os ossos de baleias que eram desenterrados durante as marés
baixas após as ressacas. Basta passear pela rua principal e reparar nas casas,
algumas delas exibem ossos dos animais, como costelas, rótula, mandíbula,
vértebras. A Igreja, apesar de muitas reformas, ainda tem a marca da
construção, com enormes pedras, e tinha como vizinho o escritório da Companhia,
onde hoje é o Hostal Bells.
Os moradores
mais velhos contam que antigamente para sair da frente da igreja era necessário
ultrapassar uma duna para chegar ao mar. Outros relembram da água livre
circulando entre o Matadeiro e a Armação, com o Rio Sangradouro no meio.
Dependendo da maré e das correntes a água passava de um lado para o outro, o
que não ocorre hoje, pois existem pedras e uma passarela.
Ando atrás é
de um registro dos anos 1970 com a retirada de boa parte das dunas da Armação
para utilizar na construção do aeroporto Hercílio Luz. Segundo moradores, foi a
partir dessa época que começaram a ser construídas as casas na beira da praia.
No início da década de 1980 chegou o asfalto, o turismo e muitas famílias do
centro de Florianópolis construíram casas de praia. Apareceram os primeiros
minimercados, um único telefone público, e alguns bares e restaurantes, como o
Vieira e o Ferro Velho.
Em 1990, 80%
das casas existentes hoje à beira-mar estavam lá, com uma longa faixa de areia
na frente, algumas com quadras de vôlei, inclusive. Os turistas e moradores
faziam um verão bem musical, embalados pelos carnavais e pelo Xis do Elvis,
shows no Companhia do Mar, saborosos pratos do Vieira, na Taberna do Português
e no Capitão Gaivota, além das compras no Mercado Sagaz. Logo depois veio o
Nutrilanches, as pizzarias, e mais
ruas asfaltadas. A água foi estatizada e o saneamento ficou na promessa.
Poucos desses
locais resistem, mas os meus encantos ainda persistem em vários cantos. A força
da natureza deixa marcas, e profundas, alterando a paisagem do lugar. Casas
construídas onde antes eram dunas foram engolidas pelo mar, em abril/maio de
2010. Outras ainda estão em pé, quem sabe até a próxima maré de sete anos. Onde
até o início do Século 21 era areia, hoje são restos de casas e muitas pedras
despejadas por caminhões para conter o mar, num custo de R$ 13 milhões.
Não sei se
temos o que comemorar nesses 240 anos, mas temos muito o que cobrar das
autoridades e indagar dos três candidatos locais a vereador. Sentimos na pele,
ou seja no avanço do mar, o que é uma promessa não cumprida, mas também temos
as relíquias do passado para defender. Pode ser que a gente não comemore, mas
pelo menos reflita sobre a atual situação. E encontre o pote da solução!!!!
fotos by Duda Hamilton