CHICO DO HORTO, UMA VIDA DEDICADA AO VERDE
foto Pablo Corti |
Bem disposto e metódico, Francisco Ovande Miranda, 61 anos, mais conhecido como Chico do Horto, há 27 anos dedica-se totalmente ao meio ambiente. Foi ele quem implantou o Horto Botânico de Itá, em 1986, quando a cidade era ainda um projeto no papel. Funcionário na época da Eletrosul, esse homem de estatura baixa, voz firme e simpático, chegou ao Oeste de Santa Catarina, às margens do Rio Uruguai, com a missão de fazer o paisagismo da nova cidade.
E fez muito mais! Espalhou o verde na região, pois foram mais de 2 milhões de mudas plantadas, 111 espécies cadastradas e quase 50 mil pessoas recebidas nos 2,5 hectares do Horto Botânico da Usina Hidrelétrica Itá, administrado pelo Consórcio Itá – Tractebel Energia, CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) e Itambé.
Centro da cidade de Itá, um túnel verde. foto Pablo Corti |
Além das frondosas árvores, que formam túneis verdes na avenida principal da cidade catarinense, Chico mostra desde o mirante do alto do Morro do Caracol o reservatório da Usina e o centro do município, ambos bem arborizados. Ele conta que foi um desafio fazer o trabalho, inédito na época, pois a antiga cidade seria atingida pelo lago do reservatório da Usina Hidrelétrica Itá e uma nova cidade surgiria em outro ponto, toda planejada e urbanizada.
Num primeiro momento, conta Chico, o horto tinha como função produzir árvores para plantar na cidade. Depois, o local passou a produzir mudas para recuperar áreas degradadas e a partir de 1999 teve início o plantio de mudas para a formação da faixa ciliar de todo o reservatório. “Hoje, temos uma produção de 100 mil mudas por ano, todas geradas a partir de 1.100 árvores matrizes selecionadas”, conta Chico, acrescentando que algumas delas estão em lugar de difícil acesso, só chegando de barco.
Sementes de Imbuia, foto Pablo Corti |
De volta ao horto, depois de um tour pelo centro, Chico convida para fazer a Trilha do Serelepe. Em passos rápidos e conversas longas, ele caminha indicando raridades da floresta do Alto Rio Uruguai e enumera as árvores ameaçadas de extinção, como a Imbuia (Ocotea Porosa), Grapia (Apuléia Leiocarpa), Araucária (Araucária Angustifolia) e Cedro (Cedrela Fissilis). “A Imbuia, junto com a Araucária e Jequetiba são árvores que podem chegar até 2 mil anos, são espécies que vivem por muito tempo, por isso são preciosas”, ensina.
No horto, 99%, das mudas são de árvores nativas da floresta do Alto Uruguai e lá estão mais de 100 espécies. A árvore símbolo do horto é a Curticeira da Serra (Erytrina Falcata), de difícil reprodução, porque a semente deve ser plantada ainda verde e retirada do pé. “Este exemplar aqui, plantado na entrada do horto, tem apenas cinco anos”, festeja. Chico pede licença na conversa, mas logo volta com as mãos repletas de sementes de Imbuia. “Isso aqui comparo com pérolas negras”.
ROTINA E CONSCIÊNCIA AMBIENTAL
Aposentado desde 1998 pela Eletrosul, Chico parece um jovem em início de carreira. Ele trabalha atualmente na LIS Ambiental, contratada pelo Consórcio Itá, para cuidar do horto. Sua rotina de trabalho inicia às 7h e termina por volta das 17h. “Chego no horto e a primeira tarefa com a equipe de três pessoas é o Diálogo sobre Meio Ambiente e Segurança no Trabalho. Depois disso, defino a prioridade do dia de cada um”. Algumas ações, explica Chico, como a repicagem de mudas, só podem ser feitas bem cedo. “É nesse momento que transplantamos as mudas dos canteiros para os sacos plásticos. Às vezes chegamos a fazer 200 transplantes, tudo antes das 9h”, ressalta. Entre as outras rotinas estão a irrigação, a limpeza das mudas com a retirada de inços, a coleta de sementes e a manutenção das trilhas e dos bosques.
Parte do horto florestal e a equipe de Chico, foto Pablo Corti |
“Aqui é meu recanto, é um prazer fazer qualquer atividade com essa dedicada equipe”, diz olhando para o alto. Nesses mais de 20 anos dedicados ao horto, Chico, que é casado e possui dois filhos e dois netos, viveu muitas alegrias e tristezas aqui. “Se colocar na balança tenho mais coisas boas do que ruins para lembrar”.
Seu momento mais difícil foi no final de 1998 e início de 1999 quando o horto quase foi parar nas mãos da Escola Técnica de Concórdia. “O que nos salvou foi um movimento da comunidade de Itá. Professores e alunos se mobilizaram e aqui ficou o horto, para a sorte de todos nós”, recorda ele.
Mas o momento de maior prazer, segundo Chico, foi ver o paisagismo da cidade, os túneis verdes, as árvores pequenas que hoje estão enormes e proporcionam a sombra fresca no verão quente. Um de seus maiores desafios foi a implantação da faixa ciliar do reservatório. “Produzimos mudas e em muitos momentos acompanhei a plantação”, conta.
EDUCAÇÃO
Outro prazer do trabalho de Chico é receber as crianças no horto, num projeto desenvolvido em conjunto com o CDA (Centro de Divulgação Ambiental). “As crianças são curiosas e gostam de saber qual a árvore mais rara, como faço para colher sementes, quais os animais que aparecem no horto. É muito gratificante, pois é educar ambientalmente”, diz sorrindo.
Noções de educação ambiental. foto arquivo pessoal |
Nesse período, Chico assistiu a modificação do comportamento das pessoas em relação ao meio ambiente. “No início elas chegavam aqui e pediam mudas de eucalipto e pinus para reflorestamento. Com calma, explicava que o objetivo era ter espécies nativas e que estas duas não eram da floresta do Alto Uruguai. Hoje, os que nos visitam querem levar as mudas ameaçadas de extinção, pedem dicas para cuidar e são mais conscientes”, observa Chico no final do expediente de um dia quente e de muito aprendizado.
Fotos Pablo Corti |
** Esse texto está na Revista Boas Novas, da Tractebel Energia
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