Volta para a fronteira com o Chile. Nesta época a pastagem é recolhida para o inverno |
Um sapato de Hummer
Dia 10
O mico da viagem ficou por minha conta. Quando chegamos a Trevelin, no domingo à noite para pegar a mala e trocar as roupas empoeiradas por limpas, me dei conta que havia deixado em Futaleufu o cômodo e amado sapato preto de todas as viagens. Nossa primeira reação foi mandar um e-mail para El Barranco e saber se estava lá, prontamente o proprietário retornou dizendo que o sapatinho, que não era de cristal, tinha ficado embaixo da cama. Ao mesmo tempo, Pablo ligou para Juan Pablo e eles combinaram de se encontrar na fronteira entre o Chile e a Argentina. Muita poeira e curvas me separavam do sapato e até pensei em fazer com que Juan Pablo mandasse para Floripa, mas ele foi contundente: vai sair uns dois ou três pares de sapato. “Te llevo hasta la frontera, sin problemas”.
Lá fomos nós de novo para o Chile numa manhã de segunda-feira muito fresca e com algumas nuvens. Em 35 minutos chegamos ao posto argentino, onde Juan Pablo, com os sapatos na mão, nos esperava na frente de seu Hummer preto. Como ele é bem conhecido na fronteira, nem precisou fazer papelada e nós nem passamos para o outro lado. Nos despedimos mais uma vez depois de uns 10 minutos de boa conversa. Eu que gosto tanto deste carro ainda não tive a oportunidade de viajar num deles, mas meus sapatos “negros” sim.
De volta a Trevelin, já quase às 15 horas, o desafio foi encontrar um lugar para almoçar e seguir viagem até El Bolsón, onde tínhamos combinado um cordeiro patagônio com Fernando. Foi neste dia que comecei a trabalhar, atendendo a solicitação de colegas da Rede Globo e de jornais do centro do país. No primeiro lugar onde li a palavra mágica wi-fi parei para resolver os assuntos de trabalho. Realmente, esta tecnologia é muito boa. Depois passamos por Esquel para pegar a ruta 40, que liga as duas cidades e por onde ainda não tínhamos passado.
Visual da Ruta 40 entre Esquel e El Bolsón |
Diferente das outras estradas, esta é de asfalto e está em bom estado, apenas com muitas curvas e uma paisagem bem diferente do que até então tínhamos visto. Nuvens se espalhavam no céu azul. Fiquei impressionada também com a quantidade de bosques de Pinus - de propriedade do italiano Benetton, dono da rede de lojas com o mesmo nome - perto de Epuyén, e da distância, de mais de 100 km de Estrada de terra, até Pedra Parada, nome dado ao vinho feito em El Hoyo.
Ao chegar a El Bolson outra surpresa: a cidade fervia. Um montão de gente na rua, muitos carros e trânsito complicado. Fomos direto à casa de Claudio, que não tinha mais cabanas. Dali passamos pelo centro e procuramos um hotel, tudo cheio. Quando a gente se dirigia para o tal cordeiro passamos por um hotel chamado Hielo Azul e lá sim, por sorte, tinha lugar.
Assim como em outros dias em que ficamos em El Bolson, ocorreu apagão das 22h às 23h30. A Argentina está com sérios problemas de energia por falta de investimentos. Tomamos banho a luz de vela e fomos bem felizes com “millones” de estrelas nos traçando o caminho até a parrillada.
Que noite agradável. Além do Fernando, estavam lá quatro pessoas. Marta, deputada radical pela província de Chubut, com seu companheiro, e mais um casal - o bom papo Ezequiel e a namorada, que acredito ser a filha de Marta. A noite foi pequena para o diversificado e animado papo. Rolou de política à música, passando por cinema, minas de urânio, banco Patagônia, Comodoro Rivadávia, vinhos e El Calafate. Ah! Eles querem saber tudo sobre a Dilma e não escondem sua admiração por Lula. Caso fizessem uma pesquisa por aqui, Lula teria muito mais do que os 80% de aprovação dos brasileiros. A situação para a permanência da presidente Cristina é difícil e a oposição, ou seja, o Partido Radical, já apresentou três candidatos. 2011 é ano de eleição aqui, portanto, tudo pode ocorrer.
Caímos duros na cama e a noite foi curta.
Artesanato e música
As cores e formas de El Bolsón |
Dia 11
Na Feira, saboreando cerejas e já com o sapatinho |
Deixamos o hotel às 11 horas e resolvemos curtir a Feira de Artesanato, que estava muito maior, fazendo a volta em toda a praça. Lá encontramos o Lucas Chiape e o Juan Merlo - organizador do Festival de Jazz de El Bolsón. Outro bom papo, agora só de muita música e bons projetos. Para encerrar a tarde, passada na rádio comunitária, onde às 23horas se apresentava um dos cantores do grupo Patagontchê. Pegamos o início da passagem de som e algumas músicas no pen drive, pois o grupo está com os dois discos esgotados.
A vontade era não sair de lá, mas ficar seria muito arriscado para chegar a Bariloche na outra manhã e entregar o carro e pegar o avião. Chegamos a Bariloche quase às 22horas e a cabana de frente para o Nahuel estava reservada. Depositamos nossas malas e fomos para o centro comprar lembranças para a família e comer. Muitas lojas ficam abertas até a meia noite, o que realmente faz de Bariloche uma cidade turística e capitalista.
Na rádio comunitária conferindo Patagontchê |
De volta à cabana arrumamos as malas tomando vinho e admirando a lua que estava espelhada no Lago. Uma despedida e tanto dos maravilhosos dias por estas bandas de acá.
A volta...
Dia 12
Manhã gelada com muito vento. Às 9h em ponto estávamos com tudo pronto, depois de deixar queimar as últimas “medias lunas” e devorar as últimas cerejas.
La Cebra, Bariloche |
Entregamos o carro e Pablo nos levou até o aeroporto, onde o vôo atrasou 20 minutos. Nada grave para quem está em férias e em ritmo lento. Em Buenos Aires muito calor e a espera de 2 horas para pegar o outro vôo até Porto Alegre, que foi tranquilo. Neste espaço de tempo a aquisição de revistas semanais de economia e política e um café.
Em solo gaúcho fomos acolhidos pela sempre querida Verinha Vergo. Para não perder o costume fomos ao Bar do Beto, na Sarmento, ao lado do apartamento do meu irmão. Na mesa, além da Polar e do carreteiro, boas risadas, muitas histórias e o carinho de sempre.
Na Real...
Dia 13
Café da manhã misturado com e-mails e televisão ligada com os desastres na Serra do Rio. Logo caí na real e vi que apenas algumas horas me separavam do dia-a-dia em Floripa. Viagem tranquila, seis horas, com bons trechos duplicados na 101, calor e a curtição dos novos discos - Otros Aires, Ultratango Astornautas e Santullo.
Perto de Paulo Lopes um acidente que deixou o trânsito bem lento e, logo depois, uma chuvarada de boas vindas. Ao fazer a curva do Morro das Pedras senti aquele cheiro de mar e a certeza que ancorava na Ilha que elegemos há 20 anos para viver.
Ancorando! |
Agora é mãos à obra com bons trabalhos, como a inauguração do projeto de usina de energia com ondas do mar, no Nordeste; lançamento de álbum; reedição do livro sobre 1961, com a editora Saraiva. 2011 vai ser muito mais do que 10!!!!
Um comentário:
então minha pé dentro/pé fora.....o caminho é caminhar......içaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!
beijares de 2011 iniciais.....uhuuuuuu!!!!
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