Frases

"Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens".
Fernando Pessoa

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Um dia sem nuvens...

Dia 5

ACORDAMOS BEM cedinho para tomar um mate e passear por Esquel. Nos despedimos da simpática Jaqueline, do Esquel Apart, onde ficamos por dois dias, e fomos até a estação de ski La Hoya. Céu límpido e temperatura agradável, mas na medida que íamos subindo o termômetro baixava. Sem palavras para descrever a sensação de estar lá em cima, de ver a cidade em miniatura, além dos cerros cônicos que separam o Chile da Argentina. Acredito que as fotos vão dar a real dimensão da beleza de La Hoya, paraíso dos esquiadores. Ficar lá em cima bem quieta foi uma delícia, uma sensação de paz, de harmonia, de total comunhão com todos os meus sentidos. Ufa!!

Na descida uma ótima surpresa. Pablito enxergou um guanaco pastando na mata nativa. Troquei a lente da máquina e saí a caça do animal. Na medida que baixamos a vegetação foi trocando, dando lugar às lindas carditas e um tipo de minimargarida

Extasiados com tanta beleza voltamos para almoçar em Esquel, lá pelas 14h. A indicação era o Tour D’Argent, na San Martín. Pablito elegeu raviolones de cordeiro e eu truta da casa. Uauuuu uma delícia ou como se diz por aqui “esquisito”.

Depois saímos a caminhar pelo centro de Esquel e conversar com algumas pessoas. Curiosidade: tudo fecha às 13h e volta a abrir às 16h30. Chamou minha atenção uma frase no alto do morro: No a la mina. Logo depois uma placa em uma esquina desvendava o mistério: homenaje a la gloriosa lucha del pueblo de Esquel al cumplirse 1 año de la consulta popular del 23 de marzo del 2003 en la que triunfó el No a la Mina. Na cidade e na região existem muitas minas de ouro a serem exploradas, mas a população se mobilizou e disse não. A batalha, segundo me descreveram, não está totalmente ganha, pois neste ano tem eleições e a lei poderá ser modificada.

Atrás de outras aventuras, principalmente rafting, fomos conversar com o Daniel, um dos guris do EPA, uma agência de turismo de aventura, para combinar um passeio no município de Corcovado. A ideia é passar para o Chile e dar um volta por lá, mas curta, porque nesta região todas as estradas são de terra.

No final da tarde, lá pelas 18h30, nos dirigimos para Trevilin, onde tínhamos reservado uma cabana. Mas para nossa surpresa, a cabana estava alugada e o cara com a maior cara de pau disse que nos esperava até as 19h, eram 19h10. Tentou nos mostrar outra, muito inferior e com o mesmo preço. Mais uma aprontada dos homens argentinos – primeiro foi o gordito do Parque, depois o careca de Trevilin, e agora o rastafari de Trevelin. 10 a zero para as mulheres, que até agora não aprontaram nenhuma.

Sem muito estresse nos dirigimos à oficina de turismo, onde fomos muito bem atendidos e registraram nossa queixa. As meninas entraram em contato com vários donos de cabanas, nos dando três sugestões. Gostamos de uma chamada “La Estancia” – bem simples, pequena e muito aconchegante, com piscina e com o atendimento da simpática Sophia. Até tentamos um mergulho, mas o ar gelado nos impediu. Depois de instalados nos emprestaram duas bicicletas e fomos pedalando até o centro de Trevelin comprar numa rotiseria “milanesas con papas fritas” para a janta, outra delícia gastronômica. No quarto, no qual Pablito tem de andar com a cabeça baixa para não bater no teto, até tentamos assistir um DVD, mas o cansaço foi maior e caímos no sono.



Cartazes espalhados pela cidade mostram a consciência ambiental do povo da região, embora a luta ainda não esteja 100% ganha. É ano de eleições nas províncias.













Um guanaco no caminho.








Marcas da neve e do tempo

La Hoya, o paraíso dos esquiadores.
Na subida de La Hoya: Esquel no primeiro plano e ao fundo a fronteira com o Chile



terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Em total comunhão com a natureza

Glaciar, faltou chegar mais perto








Dia 4

PREOCUPADOS COM A falta de pesos, madrugamos. Ainda bem que tudo deu certo. Depois de ter ido a quatro lugares e ficar uma hora na fila do banco, Pablito conseguiu tirar pesos no caixa eletrônico. O procedimento é o mesmo da retirada nos caixas do Brasil, só que tem um limite em pesos por cartão, e é cobrada uma taxa de $16,00 a cada $1.000,00.

Agora, mais tranquilos e sossegados vamos aproveitar das belezas que se contrapoem com as atuais agruras para com o turismo internacional desta parte da Argentina, coisa que no Brasil também ocorre.

Pouco antes do meio-dia saímos da cabana para mais um piquenique. Desta vez no Parque Nacional Los Alerces, onde ficamos até as 20h30 mergulhados e em plena comunhão com a natureza.

Quando chegamos ao Centro de Visitantes, para deixar escrito nossa insatisfação com a forma pela qual fomos cobrados no dia anterior, e deixar algumas sugestões, fomos surpreendidos ao saber que não deveriam ter cobrado ingresso, pois apenas passaríamos pelo parque. Como tinha tirado foto do funcionário que cobrou, mostrei para a responsável pelo Centro e ela, sem jeito, disse: “Imaginei que era ele, pois não é um funcionário do Parque e sim um concessionário, que pensa mais no lucro no que na divulgação do parque”.

Saímos dali com o dever cumprido e ávidos para explorar o local. O ar puro, o cheiro das flores e da mata, a cor da água (seja no Rio Arrayanes ou no Lago Futalaufquen), o encontro com pessoas simpáticas, o aprendizado nas trilhas, nas inscrições rupestres e no Centro de Visitas do Parque, faz com que se reflita sobre nosso papel no planeta. Este Parque é uma das coisas mais lindas que já vi até hoje e olha que não conheci nem a metade. Ficou faltando a visita ao Glaciar, com a travessia do Lago Menéndez.

Pela entrada Sul do Parque chega-se a hidrelétrica e, claro, fomos conhecer a Futaleufú, bem diferente das que conheço no Brasil, isso sem falar que fica dentro do parque. Ainda com Sol fomos até Trevelín para ver os preços das cabanas. Amanhã, depois de uma volta pelo centro de Esquel vamos pra lá. Um dia e tanto para nós dois.


Lago da Hidrelétrica Futaleufú

Sol, vento e mais belezas naturais no Parque Nacional Los Alerces

O aperto da moeda...

Campos de Esquel







Parque Nacional Los Alerces, o Rio Arrayanes


Em Lago Rivadavia um gaucho patagônico.











Em Epuyén, na Chacra El Nagual, com Jillian e Lucas.
Dia 3
OS PESOS ESTAVAM acabando e a meta era trocar mais para seguir viagem. Depois de passar quase uma hora na fila do banco de La Nación em El Bolsón, nos informaram que não trocam reais, só euros e dólar. Mais uma tentativa, desta vez no Posto Petrobras, que para nossa surpresa ninguém que trabalhava ali sabia o que era Real. Atenção, atenção dona Dilma, assim não seremos o todo poderoso País da América do Sul. Um senhor nos indicou a farmácia El Pueblo, cujos donos eram proprietários da casa de câmbio fechada há um ano mais ou menos. Outra tentativa frustrada.
A notícia nos desanimou, mas mesmo assim resolvemos ir para Esquel, onde duas pessoas informaram que lá tinha uma casa de câmbio. Com 180 pesos no bolso, o equivalente a uns R$ 90,00, saímos de El Bolsón rumo a Esquel, mas com parada em Epuyén para dar um abraço em Lucas Chiappe, dica do manéguaio Oscar Rivas. Foi uma delícia de conversa que poderia durar uns dois dias, numa casa aconchegante no meio do mato.
Ativista ecológico, ele e a mulher vivem desde a década de 1970 no Valle Epuyén, perto da entrada principal do Lago Epuyén. Ela faz artesanato e vende na feira de El Bolsón e ele escreve, escreve, milita, se reúne, lê e cuida do local, além de atender muitos visitantes que por ali passam. Nos mostrou o livro Expedição Natureza Santa Catarina, do Zé Paiva e da Adriana, um presente do Oscar, e contou que quer muito ir ao Brasil no inverno.
Nem notamos, mas as horas voaram. Nos despedimos com a certeza de que logo, logo, voltaremos a nos ver. Seguimos pela estrada com um visual deslumbrante entre picos nevados e rios verdes até chegar no Parque Nacional Los Alerces. Ali tive um chilique, pois ninguém até então informou que precisava pagar para passar pelo parque. Se a gente tivesse esta informação não iria por esta estrada, pois além de mais longe, ela é de terra, ou seja, de ripio, como dizem aqui. Depois de deixar uma queixa escrita no parque, continuamos – eu com vontade de voltar, mas não adiantava, porque o lugar mais perto para trocar dinheiro seria Esquel. Foi aí que senti na pele a máxima: “Deus existe em todos os lugares, mas atende somente em Buenos Aires e no inverno também em Bariloche”.
O que se nota nestas províncias de Rio Negro e Chubut é que o turismo é interno e eles não fazem nenhum esforço para se tornar internacional. Sabedoria ou falta de ambição? Outro problema é que você não consegue informações de uma província para outra. Por exemplo, se estás em Rio Negro, tipo El Bolsón ou Bariloche, eles não informam sobre o Parque Nacional Los Alerces, que fica na província de Chubut, embora a menos de 1 hora de El Bolsón, ou de cabanas ou hotéis em Esquel e Trevlin. Isso atrapalha a viagem. Informações de El Calafate e do Chile, nem pensar, cada um diz uma coisa e bem diferente, o que tem nos deixado inseguros.
Com menos 80 pesos no bolso seguimos viagem, e o que nos acalmou foi a natureza e o silêncio nos 90 km de ripio. Voltaremos lá amanhã, mas com pesos e bastante tempo. Na saída da área do Parque o cenário muda, os lagos dão lugar a campos repletos de gado Hereford (maioria terneiros), cavalos crioulos e morros que contrastam com o céu violeta. Aqui escurece ainda mais tarde, tipo 22horas.
Ao chegar na cidade procuramos hotéis e lugares para comer que aceitassem cartão de crédito. O dia que começou ótimo, bem ecológico, passou por minutos de estresse e acabou maravilhoso à 1h, depois de uma parrilla de terneiro, com direito a matambre recheado e uma cama enorme numa cabana indicada por Daniel, amigo da Wini. Amanhã vamos atrás dos pesos!!!!

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Ainda em El Bolsón...

Puerto Patriada, no Lago Epuyén
No centro da cidade


Na Feira de Artesanato e na descida do Piltriquitron










DIA 2
A META ERA SABER como chegar a El Calafate saindo de El Bolsón: impossível , pois nos restam 10 dias. De carro são 28 horas para ir e mais umas 30 para voltar a Bariloche. De Bariloche até El Calafate por avião vale mais do que a passagem Porto Alegre/Bariloche. Decidimos curtir mais a região, entrar para o Chile por Futaleufu e sair em Chile Chico, e fazer a viagem até o Sul em dezembro incluindo Ushuaia e Rio Gallegos, no Atlântico Sul.
Mais um dia em El Bolsón para ver a Feira de Artesanato, o Mirante do Piltriquitron, o Rio Azul cortando a cidade e a Cabeça do Índio, mas ainda falta muita coisa. Por aqui o turismo é variado, sempre em contato com a natureza, seja de quadriciclo, de cavalo, de carro ou em caminhadas de até quatro horas. Isso sem falar que as pessoas são amáveis e sempre prontas para ajudar e trocar informações.
Na Feira, por exemplo, passamos a metade do dia, olhando os trabalhos, conversando e ouvindo música. Parecia que estava numa comunidade hippie, com jovens e maduros homens canosos fazendo da arte seu modo de vida. Muitos trabalhos bonitos em madeira, prata, cutelaria e flores secas, além de comida saborosa, cervejas e sucos de frutas finas. Maravilhoso o de Arandano, ou seja, Mirtilo, e o de Framboesa.
Com algumas lembranças na mochila fomos para o outro lado da cidade, onde passa o Rio Azul, o que desemboca em Lago Puelo e divide a Argentina do Chile, e que tínhamos visto no passeio de lancha. Mais uma subidinha e estávamos na Cabeça de Índio, mais uma vez tormenta elétrica e não conseguimos subir – 1 hora de caminhada. Mas como nem tudo está perdido conhecemos Julio e Estefania, dois jovens atores argetinos de TV e Teatro. Ele, por exemplo, acabou de chegar de São Paulo, onde gravou a versão Latina do programa Quando o sino toca, para adolescents. Fomos até a cabana deles, um hostel todo reciclado (os vidros eram antigas janelas de camionetes, pedras, pedaços de Madeira, horta, ranário e água da chuva com trutas.
Depois de uns mates com eles e boa conversa seguimos o caminho para o Mirante do Piltriquitron. Bueno, aí fui às alturas literalmente, sensação maravilhosa de paz, de silêncio, com uma vista inigualável, onde você nota uma cordilheira atrás da outra. A temperatura baixou muito, sentimos frio e pegamos os casacos que não saem de dentro do carro. Descemos só quando estava escurecendo lá pelas 22horas, com uma sensação de liberdade incrível.
Antes de dormir passada na padaria La Nona para um chocolate com sanduíche, pastaflora e milhojas. Para o outro dia pegar a Estrada. Voltaremos El Bolsón!!!!!

DIA 1 - ACORDAMOS ÀS 10h aos pés do Piltriquitron com sol forte, céu azul e temperatura perto dos 30 graus. Mochila nas costas fomos atrás de informações para chegar a El Calafate, tudo fechado. Resolvemos relaxar e curtir o dia. Passamos num Mercado para pegar frutas e numa cervejaria para pegar um litro e rumamos para Puerto Patriada, distante 14km em Estrada de terra do centro de El Bolsón. Praia de pedrinhas, água gelada e muita sombra, assim foi o dia até uma tormenta se aproximar e mostrar a força da natureza – raios, vento e pingos grossos. Uma meia hora depois o tempo abriu e resolvemos pegar a Estrada. No meio do caminho avistamos uma cachoeira e logo depois um cartaz: Cascada Sendero La Catarata, de dificuldade media e com subida de mil metros. La fomos nós suar as cervejas e o cordeiro da noite anterior. No início uma delícia, cada vez que você chegava perto da queda d’água baixavam uns 5 graus, logo depois a trilha é íngreme e quente, pois se afasta da água. Lindo o mirante, com uma deslumbrante vista, dali dei volta com Pablito. Na descida outra tormenta, agora com chuva forte, relâmpagos, mas sem vento, bem diferente da que assistimos no Puerto Padriada. Ensopados dos pés à cabeça fomos para casinha tomar uma ducha e jantar no centro, pois já eram quase 21horas, aqui anoitece lá pelas 10horas e amanhece às 5h e pouco. Son días largos.
À noite decidimos começar o ano com pizza – de cogumelos da região e de cebola - e, claro, cerveja Araucana a 50 pesos a jarra de 1 litro e meio. Música ao fundo, com um cantor e uma máquina, tipo karaoke, não incomodou e foi discreto com o repertório de tangos, milongas e música Latina.