Frases

"Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens".
Fernando Pessoa

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Uma baleia e várias lições


FORAM QUATRO horas de torcida, indignação, solidariedade, estratégias, tentativas, vaias, aplausos e emoção. Bia Bolemann chegou primeiro, por volta, das 10horas, e se instalou ao lado de Paulo Benitt, nosso novo amigo, que estava bem no alto dos “cômoros brancos”. Logo em seguida, Pablito e eu dividimos mais um guarda-sol. Chegou depois Barbara, fotógrafa do Notícias do Dia, e Guto Kuerten, do DC. Outras pessoas foram tomando seus lugares, principalmente pescadores do Pântano do Sul. Era uma fria e chuvosa manhã de 8 de setembro.

Dali, buscamos o melhor registro e acompanhamos a operação, todos torcendo por um final feliz, ou seja, que a baleia franca presa ali, desde a madrugada do dia 7, ganhasse a liberdade. Cada tentativa frustrada um aiiiiii, seguido de um misto de desânimo e esperança. Uma corrente humana e colorida se formou na areia, alguns gritavam vai, vai, vai... Dentro d’água 14 mergulhadores, muitos deles bombeiros, que eram auxiliados por um rebocador da Marinha e dois jet skis.

O tempo passava, a chuva apertava, o vento mudava, a baleia se debatia e o frio aumentava. Como a primeira corda não deu certo, o pessoal no carro do ICMBIO providenciou outra mais resistente e larga, além de tonéis de água, óleo e gasolina para fazer o papel de bóias. As sugestões eram muitas, mas não existia um estratégia clara entre bombeiros, voluntários e o pessoal de órgãos públicos e ONGs. Na operação, não existia um porta-voz.

Eduardo José Capistrano, 25 anos. 
Foi a insistência de quatro mergulhadores e a coragem de Eduardo José Capistrano, 25 anos, bombeiro no aeroporto, os responsáveis pelo desencalhe da baleia franca. Dudu, como é mais conhecido, subiu no animal e colocou a corda por cima, ou seja, laçou. Mais uma tentativa, agora com final feliz.

Valeu cada segundo das mais de 4 horas que lá estive. Ficou uma lição: daqui pra frente, autoridades, voluntários, ONGs, órgão federais e estaduais tem o dever de pensar melhor no santuário de baleia que é o litoral de Santa Catarina. Nem só de propaganda ganha-se a vida, é preciso organização, transparência, antecipação e ação rápida. Num santuário de baleias, não podemos mais assistir cenas como as de quarta e quinta-feira. Que a liberdade da baleia franca, conquistada por volta das 15 horas, represente uma nova forma de agir de todos os órgãos envolvidos que lá estavam.

Liberdade, liberdade

Uma corrente humana nas areias do Pântano do Sul, by Pablo Corti
Barco da Marinha e bombeiros foram fundamentais na operação de quinta-feira,  by Duda Hamilton

Treze mergulhadores tentam passar a corda por baixo do animal, by Pablo Corti
 
Eduardo José Capistrano, 25 anos, é bombeiro no aeroporto. Foi ele quem colocou a corda por cima da baleia franca, numa das sete tentativas de libertação. foto by Duda Hamilton

Mais uma tentativa, por Pablo Corti

Esta virada foi fundamental para a liberdade, by Duda Hamilton

Por volta das 15h, Francolina, como estava sendo chamada no Arante, ganhou a liberdade, by Duda Hamilton

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Uma parada diferente


Visual a partir do campinho de futebol, by Pablo Corti.


Seo Arante torce para a maré subir, by Pablo Corti.
SEM IGUAL a “parada” da baleia franca que vi no 7 de setembro na praia do Pântano do Sul. O filhote, com pouco mais de seis metros, foi avistado por um pescador por volta das 7horas, preso em um banco de areia distante 50 metros da praia. Ali, bem perto da “chata”, como dizem os moradores sobre a embarcação afundada logo após o Pedacinho do Céu - restaurante da Zenaide.
Praia do Pântano do Sul, by Pablo Corti
Às 14 horas, quando lá cheguei, o movimento era de mais de 300 pessoas, que enfrentaram o frio e a chuva para torcer pela liberdade do filhote. Ele se debatia e tentava sair. Os biólogos do Projeto Baleia Franca fizeram duas tentativas de reboque do mamífero com uso de cordas e barcos, sem sucesso.
 “Seo” Arante, faceiro com o movimento na praia e no bar, confidenciou que viu muita baleia encalhada neste banco de areia. E deu um palpite: “Quando subir a maré o filhote sai sozinho”.
Pescadores contaram que na segunda-feira um grupo de cinco baleias estava bem próximo à praia. Nesta época do ano é comum a presença de baleias francas no litoral de Santa Catarina, pois a espécie parte da Antártica para ter filhotes em águas mais quentes.
Caso o palpite de “seo” Arante seja infeliz, a operação volta a ocorrer na manhã desta quinta-feira, dia 8 de setembro.