"Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens".
SEMPRE ATENTO às novidades do mundo musical, o DJ Gajeta enviou ao blog esta preciosa dica do grupo Interactivo, com o recado: “É a vanguarda da música cubana”. Tudo começou há quase nove anos, quando Roberto Carcassés fazia os arranjos do primeiro álbum da versátil instrumentista e cantora da Ilha de Fidel, Yusa (para quem não sabe ela já se apresentou com Lenine na França, onde gravaram o disco ao vivo In Citè). Logo depois que terminaram a gravação do CD, Roberto e Yusa resolveram juntar outros músicos para trabalhar em equipe. Na cabeça alguns objetivos bem definidos, como experimentações, intercâmbio musical e inquietações artísticas. O resultado não podia ser outro, um som criativo, refinado com uma atitude de vanguarda, sem abandonar o suingue cubano. Neste seu segundo trabalho, Cubanos por el Mundo, eles navegam em diferentes correntes musicais, passando pelo jazz, funk, rock, rumba, rap e também pelo bolero. Entre os vocalistas do album lançado este ano estão Melvis Santa, Yusa, Telmary, Descemer Bueno, William Vivanco, David Torrens, Bobby Carcassés e Kelvis Ochoa, além dos instrumentistas Oliver Valdés (bateria), Julio Padrón (trompetista) e Elmer Ferrer (guitarrista). Abaixo uma palhinha do som do Interactivo com a canção Que no Pare el Pare. Benção Galleta, mande mais dicas sempre. Gracias Ilha de Cuba por mais estes talentos!
O PROFESSOR QUE CONCEDEU entrevista à RBSTV e ao Diário Catarinense sobre a demolição do Edifício Mussi, no Centro de Florianópolis, é um amigo de fé e irmão camarada, há 20 anos. Nosso laço de carinho, respeito e amizade é anterior, pois sua mãe e minha avó paterna eram vizinhas e comadres lá pras bandas da fronteira, em Sant’Ana do Livramento, nos anos de 1930-40. Luiz Eduardo Fontoura Teixeira, o dr. Peixe, é um professor aplicado, estudioso e, acima de tudo, um amante da arquitetura e suas nuances. É daquela geração, quase em extinção, que preza o caráter, a socialização do conhecimento e o bom humor. Ele festejava o reconhecimento de sua tese de doutorado Arquitetura e Cidade: A modernidade (possível) em Florianópolis 1930-1960, quando viu vir abaixo um dos exemplares de seu estudo. Antes de sábado, andava assoviando Beatlles porque participava, com outros colegas da Arquitetura, de uma comissão formada pelo Iphan, Sephan (Serviço de Patrimônio Histórico, Artístico e Natural de Florianópolis) e a Fundação Catarinense de Cultura, com o objetivo de discutir o tombamento de patrimônios arquitetônicos da cidade, como por exemplo, o Edifício Mussi, e muitos outros prédios da capital. Na semana passada, inclusive, eles se reuniram, mas nenhum representante do Sephan apareceu, só o Iphan, e falaram sobre vários casos, entre eles o do Edifício Mussi. A briga agora é de peixe grande – Ministério Público Federal e Prefeitura Municipal. Ao ser informado pelo Ipuf sobre a tramitação de um processo de demolição solicitada pela construtora Hantei, o procurador Eduardo Barragan recomendou, na sexta-feira, a suspensão da intervenção no prédio. O pedido, segundo o MPF, foi encaminhado à empresa e à Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano. O secretário José Carlos Rauen, que também é presidente do Sindicato dos Engenheiros de Santa Catarina, disse que a prefeitura autorizou a demolição na sexta, e que só recebeu a recomendação do MPF, na segunda. Mas é bom ressaltar que existem leis a serem cumpridas. Ou tem gente que pensa que a lei foi feita para não ser levada a sério? O Plano Diretor do Distrito Sede, de 1997, exige a aprovação do Sephan para colocar abaixo prédios com mais de 30 anos, caso do Edifício construído em 1957, portanto, a regra não foi seguida. O procurador alerta ainda que existem leis que exigem autorização dos serviços histórico municipal, estadual e nacional, para qualquer intervenção em edifícios no raio de 500 metros de bens tombados. Este também era o caso do Edifício Mussi, que ficava próximo da Escola Lauro Muller, da Igreja Luterana e da antiga Escola Alemã. O assovio do professor se calou, mas sei que daqui a pouco ele já entoa novas melodias. De uma coisa eu tenho certeza, o prédio de estacionamento que será erguido no lugar do edifício não vai receber o carro do professor, mas com certeza vai abrigar o carro de muitos homens públicos.
FOI LÁ EM BOTAFOGO numa agradável noite de sexta-feira que encontrei Dionísio, o deus grego, e Baco, o romano. No palco do EcoShow, eles estavam na pele de Suely Mesquita e Eugenio Dale, respectivamente. Estes dois parecem muitos mais ao proporcionarem ótimas composições aliadas a um contagiante balanço. Compositor, produtor, arranjador, instrumentista e ainda cantor, Eugenio Dale é vários. Trafega por estilos e funções bem diferentes. Em 2010, por exemplo, produziu gravações de Elza Soares, Maria Gadu, Robertinho Silva e Anna Ratto. Como arranjador e instrumentista trabalhou com Dominguinhos, Baby do Brasil, Blitz, Fernandinha Abreu, Katia B, Vitor Ramil, Sadao Watanabe, Tania Alves. O Eugenio “Baco” compõe ainda para cinema e seus trabalhos podem ser ouvidos no Sexo, Amor & Traição, de Jorge Fernando; Sejo o Que Deus Quiser, de Murilo Salles; e Sonhos Roubados, de Sandra Werneck. Suely, que completou 30 anos de MPB, é tantas, que até já perdeu a conta: ex-fotógrafa, escritora, cantora e compositora. É dela, em parceria com Pedro Luis, a música tema de Fred, personagem de Reynaldo Gianechinni na novela Passione - “Animal/ Bem que quando o seu sangue pensa/ É feito um rio que se adensa (...)/ E os exercícios sábios somem/ E só parece sábia a natureza e o que os bichos comem”. Suas músicas foram gravadas pelos parceiros Fernando Abreu, Paulinho Moska, Ney Matogrosso com Pedro Luís e a Parede, Celso Fonseca, Zélia Duncan, Chico Cesar e Zeca Baleiro, entre outros. Os dois se reinventam o tempo todo e enchem o pequeno palco de vozes, violões, tamborim, pandeiro e cajón, mostrando as canções do primeiro CD Dio&Baco, em fase de gravação e com excelentes participações. Na sexta, por exemplo, quem acompanhou a dupla foi Arícia Mess, que soltou a voz na fabulosa Zona e Progresso: “Dionísio é o deus da zona/ zona sagrada/ gen do zen genial/ lugar do bem e do mal”. Pactocombaco, de Eugenio, abre o show e dá o tom do suingue que vem pela frente. O lado zen da dupla aparece no mantra Até que chova dinheiro “Quero cantar no chuveiro/ pra sair com a alma lavada / até que chova dinheiro/ sem a gente fazer nada”. Depois disso a sussurrante Kriptonita e uma homenagem a Nelson Motta, com a canção Sem Capotta. Mas claro que não poderia faltar a intimista Qualquer Lugar, que está em Sexo Puro, o segundo CD de Suely - “vamos nos encontrar no metro/ na porta do trem as 10 para as 6/ confundidos no rush com outros passantes no meio da rua/ sem querer nos ver’’). Gravado de forma independente, o álbum vai ser a porta de entrada para estes dois talentosos músicos mostrarem seu trabalho Brasil afora. Agora, é pegar a estrada e se entregar aos prazeres da vida de Dio&Baco. Para quem ficou curioso e quer mais é só acessar WWW.dioebaco.com.br e /ou WWW.suelymesquita.com.br/diobaco. Foto do show é de Glaucio Atayala.
O SOM DELES É vibrante, requintado e sensual, uma mistura de tango e música eletrônica que mexe com o corpo e com a alma. Formado pelo francês Philippe Cohen Solal, o suíço Christoff H. Muller e o argentino Eduardo Makaroff, o Gotan Project se apresentou quarta-feira à noite no Vivo Rio reforçado. Lá estavam os elegantes e talentosos Facundo Torres (bandoneon), Ananta Roosend (violino e sopro), Lalo Zanelli (piano) e a simpática vocalista Claudia Pannone. Em sua terceira passagem pelo Brasil, o grupo apresentou alguns sucessos dos dois primeiros discos – La Revancha del Tango e Lunático – mas centrou-se no excelente álbum lançado neste ano: Tango 3.0. Um dos pontos altos foi a homenagem ao autor argentino Julio Cortázar, com a música Rayuela, mas as execuções das fantásticas Peligro e Tu Misterio, me fascinaram. Num telão atrás dos músicos eram exibidas imagens e clipes, e quando dois rappers apareceram no imenso telão mesclando suas vozes com o som do Gotan, o público delirou. E eu fiquei com a certeza de que eles, dos grupos de eletrotango, são os que conseguem o que parece impossível: juntar o moderno ao clássico, numa mistura de arrepiar. Aplausos, gritos e assovios e o Gotan voltou, depois de quase 2 horas de show, para apresentar o “bis”: Santa Maria (del Buen Ayre) e Immigrante. Quando terminou fiquei com um gosto de quero mais. Quem tiver em Salvador, em 13 de outubro, ou em Porto Alegre, dia 15, não pode perder a oportunidade de sentir essa mistura, que deu outra roupagem ao tango, mas sem deixá-lo perder a essência.