Frases

"Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens".
Fernando Pessoa

domingo, 9 de janeiro de 2011

Fronteira Argentina/Chile: A Patagônia Verde!




Ventisquero antes do Lago Yelcho e Puerto Piedra, ambos no Chile.


A boa carne da Patagônia Verde

QUASE TRÊS DIAS desconectados por total falta de internet no Chile. Só em Futaleufu que conseguimos wi-fi. Dia 9, a estrada nos aguarda, desta vez pegamos a ruta 40 no retorn
o a El Bolson.


Dia 6, Los Reyes
Fomos ao criatório de trutas do Governo, no Molino e fizemos a trilha das cachoeiras, com direito a piquenique com suco de pomelo e empanadas de carne e de choclo. Tudo estrada de rípio, em bom estado, pelo interior de Trevelin, cidade fundada por galeses.
Era dia de Reyes e também dia da morte de meu pai há 12 anos. Boas lembranças e muita reflexão, pois aqui nesta região ele adoraria ter vindo, muita pesca, inúmeros lagos e, claro, gado Hereford, ovelhas e cavalos crioulos.
No final da tarde, que aqui é das 21h às 22h, banho na piscina em La Estancia, num papo descontraído com a Paula e a Sofia (dona das cabanas) acompanhado de mate e muita risada. Paula, por exemplo, mora em Trevelin, mas trabalha no Banco Patagônia (onde 51% do capital é do Banco do Brasil) de Esquel, distante 20 km e sem trânsito.
Ao escurecer fomos surpreendidos pela Lua Nova caindo nos picos nevados, ficamos os dois admirando até ela se esconder e as estrelas tomarem contam do céu.

Fomos depois jantar na parrilla El Oregón, do simpático Jose Luiz, que leva grupos de pessoas para pescar trutas no verão e faz travessias de 4x4 na neve no inverno, o que deixou o Pablo louco para voltar. Além de boa carne, uma trilha sonora maravilhosa, com o músico Luis Salinas.
Para o outro dia, o roteiro estava pronto: rafting no Rio Corcovado e passagem para o Chile, por dois dias.


Dia 7

A dica era sair da Argentina por Carrelefu/Palena (Chile) e voltar por Futaleufu. Atravessar as estâncias patagônicas repletas de éguas crioulas, gado Hereford e paisagens coloridas foi de tirar o fôlego. Nem a poeira da Estrada ofuscou tanta beleza. Em Lago Rosario, por exemplo, uma das primeiras comunidades Mapuches a explorar o artesanato e, no meio do campo, uma homenagem aos índios.


Ao chegar em Carrelefu uma surpresa: chegamos atrasados ao rafting devido as várias paradas para fotografar. Mas mesmo assim curtimos o rio e vimos como seria emocionante andar entre aqueles paredões.
Sem problemas no passo de fronteira, mas ali deixamos as frutas antes de ingressar no Chile. O limão e duas maçãs deixamos, mas o pêssego comi na hora. Em Palena, no Chile, a casa de turismo nos ofereceu tudo o que precisávamos e resolvemos seguir caminho até Santa Luzia, onde nos indicaram um bom hostal. Em Puerto Ramirez paramos para mais informações e um casal nos informou de uma outra pousada mais perto. Estávamos cansados e empoeirados, nenhum quilômetro de asfalto neste dia.
Quando chegamos em Puerto Piedra ficamos um pouco assustados com o aparência externa do hostal. De dentro da casa surgiu o proprietário, que ao ler nosso pensamento disse: “o que tem lá dentro não tem nada a ver com o que vocês estão vendo. Entrem!!!”. E realmente, ele estava coberto de razão. Muito lindo, limpo e agradável, sem falar nas pessoas que encontramos lá: um casal de argentinos com reserva por 15 dias para pescar e três professoras argentinas que percorriam a região a pé ou de carona e com pesadas mochilas.

Jorge Fly e Pia são ótimos anfitriões. Como o casal tinha reservado, eles serviram a janta para eles. Mas Jorge nos ofereceu o jantar sem pagar, com a condição de que a gente cozinhasse e lavasse toda a louça. Prontamente aceitamos e nos dividimos. Pablito no fogão, Julia e Rocío cortando os temperos e Duda e Malena na louça. Muio divertido tudo, além do papo que rolou sobre pedagogia. As meninas são fãs de Paulo Freire e fazem voluntariado com alfabetização de adultos com um método cubano.
Na hora da janta vinho, sucos e uma massa preparada no fogão a lenha, que nos aqueceu, pois lá fora a temperatura era de 8 graus. Até tentamos chegar à beira do rio, mas o frio era intenso e resolvemos “charlar” na beira do fogão.

Dia 8
Levantei cedinho para fazer o mate, ver os picos nevados e caminhar na beira do Rio, com água inacreditavelmente muito verde. Las “gurisas” argentinas já tinham partido lá pelas 6 horas, pois iam em direção ao Sul do Chile. Pablito, Pia, Jorge e o outro casal dormiam. Ficar em silêncio é uma maravilha e não pensar em nada é uma dádiva!!!! Assim me senti por algumas horas em Puerto Piedra.

Todos foram acordando em seus ritmos para tomar o café. Conversa descontraída e a decisão de que iríamos até Chaitén para ver o desastre deixado pelo vulcão. No caminho paisagens antes nunca vistas, como o Ventisquero (glaciar na terra) e o Lago Yelcho, queremos voltar lá para ficar uns dois dias. Depois, as termas El Amarillo dentro do Parque Nacional El Pumalin, dica de Jorge Fly, que pediu também para levarmos um abraço e um recado para seu amigo que vive dentro do parque numa casa com Bed & Breakfast, muito utilizado por turistas europeus.

Depois de um bom papo regado a café solúvel e bolachas, o mergulho nas termas, com água saindo da vertente a 56 graus. Uma outra torneira de água fria entrava na piscine para a água ficar quase em 40 graus. Logo depois, mais estrada, agora de asfalto até El Chaitén. Quando chegamos o impacto foi grande. A cidade é fantasma e tudo o já tinha lido e visto até então sobre a erupção do vulcão não chegava nem perto da realidade. Depoimento do gerente do posto de gasolina nos impressionou, principalmente, porque ele disse que ali era o melhor lugar para viver.

Antes do vulcão cuspir cinzas viviam ali quase 10 mil pessoas – era a maior cidade da região. Hoje, não passam de 500. Assim que o vulcão deu início a erupção, as autoridades evacuaram a cidade, o que evitou uma tragédia com mortes. A população se refugiou nas cidades próximas, como Futaleufu (que ficou com 20cm de cinzas nas ruas) e Castro (na Ilha Chiloé). Até o ano passado, o governo fornecia um tipo de mesada para os atingidos, cerca de mil dólares por família atingida.
Depois de muita insistência junto às autoridades, alguns moradores estão conseguindo voltar à cidade, que na semana passada recebeu água potável, e até agora possui luz somente graças a geradores a gasolina. A limpeza das cinzas prossegue até hoje, sendo feita, na maioria das vezes, pelos própios moradores. A sensação é estranha ao ver o Pacífico sendo engolido por uns 2km ou mais de cinzas e casas ainda soterradas.
Fiquei minutos e minutos contemplando. Não conseguia tirar os olhos do vulcão, que solta uma fumaça estranha e está em alerta amarelo. Há três meses chegou a estar em alerta “rojo”. Pablo chamou minha atenção de casas com cinza quase até o telhado e outras totalmente enterradas pelas cinzas que baixaram pelo rio. Fiz um filme com o celular, que devo postar assim que chegar em Floripa.
Quase seis horas da tarde e resolvemos seguir caminho, agora em direção a fronteira. Tínhamos como opção ficar novamente no hostal de Jorge ou tentar a sorte em Futaleufu. Na Estrada para a fronteira mais paisagens deslumbrantes, agora com os rios Grande e Futaleufu, considerados a meca do rafting no mundo.
Sem um peso chileno no bolso (deixamos em Chaitén o que tínhamos para colocar gasolina), encontramos o paradisíaco El Barranco Lodge, com cartões, restaurante, piscina, sauna, bicicletas etc e tal. Bem mais caro do que vínhamos pagando até então, mas um dia de rei e rainha até que é bom, ainda mais para descansar, pois tínhamos mais kms de estrada de terra pela frente. Ficamos no El Barranco e ali jantamos uma truta no vapor (Pablito) e eu, para lembrar dos velhos tempos de infância, uma lebre a caçarola, claro que tudo acompanhado com um Carmenere nacional.

Dia 9
Em El Barranco tudo é possível, até porque a diária é diária mesmo, pois se você chegar às 20horas tem direito a ficar até as 20 horas do outro dia. Com isso, aproveitamos para ficar por lá descansando e curtindo o verde e o bom gosto de cada detalhe a nossa volta. Acordamos lá pelas 10horas e fomos direto para o café da manhã, depois fui para o computador baixar as fotos e responder alguns e-mails. Voltamos a dormir!!!
Estava muito quente e resolvemos ficar na piscina, já que estávamos só nós, pois os outros hóspedes foram fazer rafting no Rio Grande. Recarreguei as baterias no sol sem fazer nada, depois nadei, fiquei com caimbra e, na sombra, voltei a me conectar. Outros mergulhos e um banho para pegar a estrada.
Nos despedimos dos proprietários Juan Pablo e Soledad e fomos dar uma volta na pequena e simpática cidade até as 20h30, pois aqui a fronteira fecha às 21 horas.
Na praça uma boa sacada: um gerador eólico e solar carrega o mapa turístico da cidade, que indica os pontos e a distância, bem como lugares para ficar. Isso, acredito eu, bem que poderia ser copiada pelas autoridades de Florianópolis e colocados em vários pontos da cidade. Mas até acho que estou sonhando alto demais!!!
Passagem tranquila pela fronteira, sem revistas, pois o movimento era intenso de ambos os lados. Voltamos para La Estancia, em Trevelin, onde deixamos a mala e os vinhos. Antes de dormir, uma parrilla e a troca de músicas com Jorge Luiz.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Um dia sem nuvens...

Dia 5

ACORDAMOS BEM cedinho para tomar um mate e passear por Esquel. Nos despedimos da simpática Jaqueline, do Esquel Apart, onde ficamos por dois dias, e fomos até a estação de ski La Hoya. Céu límpido e temperatura agradável, mas na medida que íamos subindo o termômetro baixava. Sem palavras para descrever a sensação de estar lá em cima, de ver a cidade em miniatura, além dos cerros cônicos que separam o Chile da Argentina. Acredito que as fotos vão dar a real dimensão da beleza de La Hoya, paraíso dos esquiadores. Ficar lá em cima bem quieta foi uma delícia, uma sensação de paz, de harmonia, de total comunhão com todos os meus sentidos. Ufa!!

Na descida uma ótima surpresa. Pablito enxergou um guanaco pastando na mata nativa. Troquei a lente da máquina e saí a caça do animal. Na medida que baixamos a vegetação foi trocando, dando lugar às lindas carditas e um tipo de minimargarida

Extasiados com tanta beleza voltamos para almoçar em Esquel, lá pelas 14h. A indicação era o Tour D’Argent, na San Martín. Pablito elegeu raviolones de cordeiro e eu truta da casa. Uauuuu uma delícia ou como se diz por aqui “esquisito”.

Depois saímos a caminhar pelo centro de Esquel e conversar com algumas pessoas. Curiosidade: tudo fecha às 13h e volta a abrir às 16h30. Chamou minha atenção uma frase no alto do morro: No a la mina. Logo depois uma placa em uma esquina desvendava o mistério: homenaje a la gloriosa lucha del pueblo de Esquel al cumplirse 1 año de la consulta popular del 23 de marzo del 2003 en la que triunfó el No a la Mina. Na cidade e na região existem muitas minas de ouro a serem exploradas, mas a população se mobilizou e disse não. A batalha, segundo me descreveram, não está totalmente ganha, pois neste ano tem eleições e a lei poderá ser modificada.

Atrás de outras aventuras, principalmente rafting, fomos conversar com o Daniel, um dos guris do EPA, uma agência de turismo de aventura, para combinar um passeio no município de Corcovado. A ideia é passar para o Chile e dar um volta por lá, mas curta, porque nesta região todas as estradas são de terra.

No final da tarde, lá pelas 18h30, nos dirigimos para Trevilin, onde tínhamos reservado uma cabana. Mas para nossa surpresa, a cabana estava alugada e o cara com a maior cara de pau disse que nos esperava até as 19h, eram 19h10. Tentou nos mostrar outra, muito inferior e com o mesmo preço. Mais uma aprontada dos homens argentinos – primeiro foi o gordito do Parque, depois o careca de Trevilin, e agora o rastafari de Trevelin. 10 a zero para as mulheres, que até agora não aprontaram nenhuma.

Sem muito estresse nos dirigimos à oficina de turismo, onde fomos muito bem atendidos e registraram nossa queixa. As meninas entraram em contato com vários donos de cabanas, nos dando três sugestões. Gostamos de uma chamada “La Estancia” – bem simples, pequena e muito aconchegante, com piscina e com o atendimento da simpática Sophia. Até tentamos um mergulho, mas o ar gelado nos impediu. Depois de instalados nos emprestaram duas bicicletas e fomos pedalando até o centro de Trevelin comprar numa rotiseria “milanesas con papas fritas” para a janta, outra delícia gastronômica. No quarto, no qual Pablito tem de andar com a cabeça baixa para não bater no teto, até tentamos assistir um DVD, mas o cansaço foi maior e caímos no sono.



Cartazes espalhados pela cidade mostram a consciência ambiental do povo da região, embora a luta ainda não esteja 100% ganha. É ano de eleições nas províncias.













Um guanaco no caminho.








Marcas da neve e do tempo

La Hoya, o paraíso dos esquiadores.
Na subida de La Hoya: Esquel no primeiro plano e ao fundo a fronteira com o Chile



terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Em total comunhão com a natureza

Glaciar, faltou chegar mais perto








Dia 4

PREOCUPADOS COM A falta de pesos, madrugamos. Ainda bem que tudo deu certo. Depois de ter ido a quatro lugares e ficar uma hora na fila do banco, Pablito conseguiu tirar pesos no caixa eletrônico. O procedimento é o mesmo da retirada nos caixas do Brasil, só que tem um limite em pesos por cartão, e é cobrada uma taxa de $16,00 a cada $1.000,00.

Agora, mais tranquilos e sossegados vamos aproveitar das belezas que se contrapoem com as atuais agruras para com o turismo internacional desta parte da Argentina, coisa que no Brasil também ocorre.

Pouco antes do meio-dia saímos da cabana para mais um piquenique. Desta vez no Parque Nacional Los Alerces, onde ficamos até as 20h30 mergulhados e em plena comunhão com a natureza.

Quando chegamos ao Centro de Visitantes, para deixar escrito nossa insatisfação com a forma pela qual fomos cobrados no dia anterior, e deixar algumas sugestões, fomos surpreendidos ao saber que não deveriam ter cobrado ingresso, pois apenas passaríamos pelo parque. Como tinha tirado foto do funcionário que cobrou, mostrei para a responsável pelo Centro e ela, sem jeito, disse: “Imaginei que era ele, pois não é um funcionário do Parque e sim um concessionário, que pensa mais no lucro no que na divulgação do parque”.

Saímos dali com o dever cumprido e ávidos para explorar o local. O ar puro, o cheiro das flores e da mata, a cor da água (seja no Rio Arrayanes ou no Lago Futalaufquen), o encontro com pessoas simpáticas, o aprendizado nas trilhas, nas inscrições rupestres e no Centro de Visitas do Parque, faz com que se reflita sobre nosso papel no planeta. Este Parque é uma das coisas mais lindas que já vi até hoje e olha que não conheci nem a metade. Ficou faltando a visita ao Glaciar, com a travessia do Lago Menéndez.

Pela entrada Sul do Parque chega-se a hidrelétrica e, claro, fomos conhecer a Futaleufú, bem diferente das que conheço no Brasil, isso sem falar que fica dentro do parque. Ainda com Sol fomos até Trevelín para ver os preços das cabanas. Amanhã, depois de uma volta pelo centro de Esquel vamos pra lá. Um dia e tanto para nós dois.


Lago da Hidrelétrica Futaleufú

Sol, vento e mais belezas naturais no Parque Nacional Los Alerces

O aperto da moeda...

Campos de Esquel







Parque Nacional Los Alerces, o Rio Arrayanes


Em Lago Rivadavia um gaucho patagônico.











Em Epuyén, na Chacra El Nagual, com Jillian e Lucas.
Dia 3
OS PESOS ESTAVAM acabando e a meta era trocar mais para seguir viagem. Depois de passar quase uma hora na fila do banco de La Nación em El Bolsón, nos informaram que não trocam reais, só euros e dólar. Mais uma tentativa, desta vez no Posto Petrobras, que para nossa surpresa ninguém que trabalhava ali sabia o que era Real. Atenção, atenção dona Dilma, assim não seremos o todo poderoso País da América do Sul. Um senhor nos indicou a farmácia El Pueblo, cujos donos eram proprietários da casa de câmbio fechada há um ano mais ou menos. Outra tentativa frustrada.
A notícia nos desanimou, mas mesmo assim resolvemos ir para Esquel, onde duas pessoas informaram que lá tinha uma casa de câmbio. Com 180 pesos no bolso, o equivalente a uns R$ 90,00, saímos de El Bolsón rumo a Esquel, mas com parada em Epuyén para dar um abraço em Lucas Chiappe, dica do manéguaio Oscar Rivas. Foi uma delícia de conversa que poderia durar uns dois dias, numa casa aconchegante no meio do mato.
Ativista ecológico, ele e a mulher vivem desde a década de 1970 no Valle Epuyén, perto da entrada principal do Lago Epuyén. Ela faz artesanato e vende na feira de El Bolsón e ele escreve, escreve, milita, se reúne, lê e cuida do local, além de atender muitos visitantes que por ali passam. Nos mostrou o livro Expedição Natureza Santa Catarina, do Zé Paiva e da Adriana, um presente do Oscar, e contou que quer muito ir ao Brasil no inverno.
Nem notamos, mas as horas voaram. Nos despedimos com a certeza de que logo, logo, voltaremos a nos ver. Seguimos pela estrada com um visual deslumbrante entre picos nevados e rios verdes até chegar no Parque Nacional Los Alerces. Ali tive um chilique, pois ninguém até então informou que precisava pagar para passar pelo parque. Se a gente tivesse esta informação não iria por esta estrada, pois além de mais longe, ela é de terra, ou seja, de ripio, como dizem aqui. Depois de deixar uma queixa escrita no parque, continuamos – eu com vontade de voltar, mas não adiantava, porque o lugar mais perto para trocar dinheiro seria Esquel. Foi aí que senti na pele a máxima: “Deus existe em todos os lugares, mas atende somente em Buenos Aires e no inverno também em Bariloche”.
O que se nota nestas províncias de Rio Negro e Chubut é que o turismo é interno e eles não fazem nenhum esforço para se tornar internacional. Sabedoria ou falta de ambição? Outro problema é que você não consegue informações de uma província para outra. Por exemplo, se estás em Rio Negro, tipo El Bolsón ou Bariloche, eles não informam sobre o Parque Nacional Los Alerces, que fica na província de Chubut, embora a menos de 1 hora de El Bolsón, ou de cabanas ou hotéis em Esquel e Trevlin. Isso atrapalha a viagem. Informações de El Calafate e do Chile, nem pensar, cada um diz uma coisa e bem diferente, o que tem nos deixado inseguros.
Com menos 80 pesos no bolso seguimos viagem, e o que nos acalmou foi a natureza e o silêncio nos 90 km de ripio. Voltaremos lá amanhã, mas com pesos e bastante tempo. Na saída da área do Parque o cenário muda, os lagos dão lugar a campos repletos de gado Hereford (maioria terneiros), cavalos crioulos e morros que contrastam com o céu violeta. Aqui escurece ainda mais tarde, tipo 22horas.
Ao chegar na cidade procuramos hotéis e lugares para comer que aceitassem cartão de crédito. O dia que começou ótimo, bem ecológico, passou por minutos de estresse e acabou maravilhoso à 1h, depois de uma parrilla de terneiro, com direito a matambre recheado e uma cama enorme numa cabana indicada por Daniel, amigo da Wini. Amanhã vamos atrás dos pesos!!!!

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Ainda em El Bolsón...

Puerto Patriada, no Lago Epuyén
No centro da cidade


Na Feira de Artesanato e na descida do Piltriquitron










DIA 2
A META ERA SABER como chegar a El Calafate saindo de El Bolsón: impossível , pois nos restam 10 dias. De carro são 28 horas para ir e mais umas 30 para voltar a Bariloche. De Bariloche até El Calafate por avião vale mais do que a passagem Porto Alegre/Bariloche. Decidimos curtir mais a região, entrar para o Chile por Futaleufu e sair em Chile Chico, e fazer a viagem até o Sul em dezembro incluindo Ushuaia e Rio Gallegos, no Atlântico Sul.
Mais um dia em El Bolsón para ver a Feira de Artesanato, o Mirante do Piltriquitron, o Rio Azul cortando a cidade e a Cabeça do Índio, mas ainda falta muita coisa. Por aqui o turismo é variado, sempre em contato com a natureza, seja de quadriciclo, de cavalo, de carro ou em caminhadas de até quatro horas. Isso sem falar que as pessoas são amáveis e sempre prontas para ajudar e trocar informações.
Na Feira, por exemplo, passamos a metade do dia, olhando os trabalhos, conversando e ouvindo música. Parecia que estava numa comunidade hippie, com jovens e maduros homens canosos fazendo da arte seu modo de vida. Muitos trabalhos bonitos em madeira, prata, cutelaria e flores secas, além de comida saborosa, cervejas e sucos de frutas finas. Maravilhoso o de Arandano, ou seja, Mirtilo, e o de Framboesa.
Com algumas lembranças na mochila fomos para o outro lado da cidade, onde passa o Rio Azul, o que desemboca em Lago Puelo e divide a Argentina do Chile, e que tínhamos visto no passeio de lancha. Mais uma subidinha e estávamos na Cabeça de Índio, mais uma vez tormenta elétrica e não conseguimos subir – 1 hora de caminhada. Mas como nem tudo está perdido conhecemos Julio e Estefania, dois jovens atores argetinos de TV e Teatro. Ele, por exemplo, acabou de chegar de São Paulo, onde gravou a versão Latina do programa Quando o sino toca, para adolescents. Fomos até a cabana deles, um hostel todo reciclado (os vidros eram antigas janelas de camionetes, pedras, pedaços de Madeira, horta, ranário e água da chuva com trutas.
Depois de uns mates com eles e boa conversa seguimos o caminho para o Mirante do Piltriquitron. Bueno, aí fui às alturas literalmente, sensação maravilhosa de paz, de silêncio, com uma vista inigualável, onde você nota uma cordilheira atrás da outra. A temperatura baixou muito, sentimos frio e pegamos os casacos que não saem de dentro do carro. Descemos só quando estava escurecendo lá pelas 22horas, com uma sensação de liberdade incrível.
Antes de dormir passada na padaria La Nona para um chocolate com sanduíche, pastaflora e milhojas. Para o outro dia pegar a Estrada. Voltaremos El Bolsón!!!!!

DIA 1 - ACORDAMOS ÀS 10h aos pés do Piltriquitron com sol forte, céu azul e temperatura perto dos 30 graus. Mochila nas costas fomos atrás de informações para chegar a El Calafate, tudo fechado. Resolvemos relaxar e curtir o dia. Passamos num Mercado para pegar frutas e numa cervejaria para pegar um litro e rumamos para Puerto Patriada, distante 14km em Estrada de terra do centro de El Bolsón. Praia de pedrinhas, água gelada e muita sombra, assim foi o dia até uma tormenta se aproximar e mostrar a força da natureza – raios, vento e pingos grossos. Uma meia hora depois o tempo abriu e resolvemos pegar a Estrada. No meio do caminho avistamos uma cachoeira e logo depois um cartaz: Cascada Sendero La Catarata, de dificuldade media e com subida de mil metros. La fomos nós suar as cervejas e o cordeiro da noite anterior. No início uma delícia, cada vez que você chegava perto da queda d’água baixavam uns 5 graus, logo depois a trilha é íngreme e quente, pois se afasta da água. Lindo o mirante, com uma deslumbrante vista, dali dei volta com Pablito. Na descida outra tormenta, agora com chuva forte, relâmpagos, mas sem vento, bem diferente da que assistimos no Puerto Padriada. Ensopados dos pés à cabeça fomos para casinha tomar uma ducha e jantar no centro, pois já eram quase 21horas, aqui anoitece lá pelas 10horas e amanhece às 5h e pouco. Son días largos.
À noite decidimos começar o ano com pizza – de cogumelos da região e de cebola - e, claro, cerveja Araucana a 50 pesos a jarra de 1 litro e meio. Música ao fundo, com um cantor e uma máquina, tipo karaoke, não incomodou e foi discreto com o repertório de tangos, milongas e música Latina.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Diário de Viagem - Ruta 40 - Argentina





Lago Puelo

DIA 31

QUASE UMA HORA de lancha e rodeada por uma intocável natureza chegamos a mais uma fronteira: a foz do Rio Azul, no Lago Puelo, divisor de águas entre os territórios chileno e argentino. Com uma superfície de quase 28 mil hectares, o Parque Nacional Lago Puelo está desde 1971 independente do Parque Nacional Los Alerces, criado em 1937. Ali estão espécies únicas da floresta Valdiviana, efeitos glaciares causados nas rochas, o Rio Puelo, que desemboca no Oceano Pacífico, trutas, salmões e cervos, além do Cerro Chato, Cerro Cuevas e muito mais.

Quando chegamos o lago estava um espelho. O desejo era mergulhar na água cristalina de 17 graus na superfície. Escolhemos o Aventuras Lacustres de uns guris porque era o único com cartão de crédito, mas ele não funcionou. Ainda bem que existe o logo aceito e valoroso Real, com Pablito fazendo o câmbio. Na ótima companhia dos guris da Aventuras Lacustres - Max e Damián - e mais dois casais de Neuquén fomos abraçados pela natureza por um tempo que eu não consegui precisar.

Se molhar na Cascada Escondida que desce do nevado Cerro Cuevas, boiar e mergulhar na água azul turquesa do Lago e fazer piquenique foram ótimas e únicas sensações. Para encerrar, cordeiro nas brasas, cerveja El Bolsón na geladeira, vinho Pedra Parada no cálice e a tranquilidade e a rusticidade da Patagônia.

O último dia do ano foi de sombra, água fresca, namoro, natureza e muito prazer. Que venha 2011!

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

POR LA RUTA 40...


Lago Epuyén




Bodega Weinert, paralelo 42.
Ruta 40 - Bariloche - El Bolsón




Cordeiro da Parrilla Patagonia, El Bolsón

Lago Nahuel Huapi, Bariloche

Dia 28

Chegada no aeroporto de Bariloche, com sol e céu azul. Pegamos um táxi e dividimos com um polonês que vinha no mesmo vôo e que não falava uma só palavra em espanhol ou outra língua, que não o inglês. Pablito salvou, pois nem o taxista, um típico argentino remacanudo, pronunciava uma só palavra. Ele emprestou o celular para ligar e conseguir alugar um carro. Depois de duas tentativas – Gol e Siena - pegamos um Ford Ka com outro Pablo, muy macanudo, no centro da cidade.

Como o casal de gorditos não viaja sem lanche passamos no Todo a su lado para comprar presunto cru, queijo, meia lua e, claro, algumas botellas de vinhos da região, ou seja, da província de Rio Negro: Humberto Canale, por supuesto. O dia estava esplêndido, céu azul sem nuvens, o que fez com que a gente optasse por ficar uma noite em Bariloche para conhecer melhor.

Ao passar pela avenida Bustillo paramos numa Hosteria, mas o Pablo preferiu olhar outras coisas. Fomos até a Península de San Pedro no Aldebaran, um lugar charmoso com vista para o lago Nahuel Huapi, piscina climatizada, mas achamos os U$ 290 muito para passar uma noite e não aproveitar o que o lugar oferecia. Se a grana der, a gente vai ficar a última noite por lá…Depois de fazer o circuito chico, na volta para a cidade e quase decididos a ficar num hotel no centro, passamos por umas cabanas com o nome La Cebra de frente para o lago Nahuel Huapi. Pablito, que tem bom gosto, desceu, olhou e decidiu ficar. O preço? Uma quinta parte da anterior.

Como escurece quase às 22 horas, nos perdemos no horário e saímos para jantar lá pelas 23h. Jantamos massa com vinho em El Boliche de Alberto e depois saímos sem rumo pelas ruas de Bariloche. A cidade nos surpreendeu, pois estava sem muitos turistas.

Dia 29, El Puelo e El Bolsón

Acordamos com os olhos no lago e um ar fresco e agradável. Antes de partir para o nosso objetivo - uma passada no Musimundo para pegar o Tricota, último álbum do grupo Otros Aires – a Ruta 40, com destino a El Bolsón. Foram pouco mais de uma hora para fazer os 100 e poucos km com o nosso novo companheiro de viagem um Ka 2010. No caminho sentimos o aquecimento do planeta tanto no desgelo das montanhas, como na alta temperatura.

Ao chegar à pequena cidade, não tão pequena assim, fomos direto ao posto de turismo, que ao contrário de Florianópolis, funciona muito bem com preços de hotéis, pousadas e cabanas. Saímos de lá com folhetos e a ideia de chegar a Lago Puelo, na província de Chubut e distante uns 12 km de El Bolsón, que está na província de Rio Negro. Foi o dia mais quente dos últimos 20 anos, com o termômetro marcando 32 graus - a temperatura máxima para esta época do ano é de 25.

Quando soube que em Lago Puelo não havia hospedagem, a minha temperatura também começou a subir e bateu o desespero, pois estava muito quente e a gente não tinha comido nada. Com fome perco todos os pontos cardeais, mas parece (ou será desejo?) que agora encontro um deles com mais facilidade e em menos tempo. Depois de ver e não gostar de três lugares e um achar acima do preço estabelecido, voltamos para El Bolsón.

Ao passar em Villa Turismo, Pablito, que também estava inquieto, resolveu seguir a placa Las Grullas, cuja dica já tinha sido dada no turismo e sem a informação da existência do wi-fi. Fomos recebidos por Maria Angelica numa cabana aconchegante, barata e com wi-fi. Como nem tudo é perfeito, só tinha vaga para uma noite. Sonhando com um cordeiro patagônico e seguindo a dica de Maria Angelica fomos parar na autêntica Parrilla Patagônia, do simpatico e comunicativo Fernando. Presidente do equivalente ao Florianopolis Convention Bureau, ele e sua mulher já correram o mundo. Agora, com Valentino de 4 anos, estacionaram na Patagônia e abriram as portas desta agradável e diferenciada parrilla. Oferecem vinho produzido em El Hoyo e com rótulo próprio, cervejas artesanais da cidade como Araucana, El Bolsón, entre outras, e todo o tipo de carne – do cordeiro, passando pelo assado, o cervo, o javali…Uhmm um prazer só!! E com a temperatura na marca dos 15 graus nos dirigimos para nossa primeira noite aos pés do recortado Piltriquitron.

Dia 30 – El Hoyo, El Bolsón

Como aprendemos no dia anterior, primeiro é melhor procurar o berço. Fernando pediu para passarmos lá que ele conseguiria alguma coisa pra nós ficarmos até 1 de janeiro. Tínhamos como exigências cabanas individuais, conectada e fora do centro da cidade. Fomos a três em Villa Turismo e ficamos entre duas, a do arquiteto Miguel e a de Claudio. Dica do Fernando foi boa, mas totalmente sem sombra e a temperatura estava bem alta novamente. Elegemos Pedras Brancas, casinha de duendes, na sombra e de cara para o Piltriquitron e para o Cierro Hielo Azul, com 2.270 metros, pouco mais alto do que o Perito Moreno.

Perto do meio-dia com sol escaldante fomos às compras para equipar a casinha e, claro, almoçar. De repente, lá pelas 4 horas o tempo fechou, vento leste, muito raro nesta época, e uma tremenda tormenta elétrica, com o cerro ficando roxo.

Esta demonstração da natureza não nos assustou e fomos cumprir o roteiro do dia: bodega Weinert e propriedades ecológicas, ambas em El Hoyo, na província de Chubut e uns 15 km de El Bolsón. Bodega fechada, só abre depois do Ano Novo e a dica de que o vinho tinha no supermecado da localidade. As propriedades com frutas, verduras, doces e conservas comercializam seus produtos na região e toda a família trabalha ali.

A chuva raríssima nesta época do ano não chegou a atrapalhar a visita ao Lago Epuyen, que está dentro de um parque semelhante ao da Lagoa do Peri, em Florianópolis, mas com boa infra-estrutura – cabanas, campings, churrasqueiras, locais para pesca de trutas, além da prática de esportes náuticos que não tenham motores. Por aqui também se sente intensamente as mudanças da natureza, mas a água é abundante e o ar puro.

Depois de ter conhecido Adriana no mercado, compramos ravioles de acelga e vinho Piedra Parada produzido no paralelo 42 pela bodega Weinert. Nem o apagão atrapalhou o jantar à luz de emergência, com o recomendável Piedra Parada, um vinho de zona fria que mescla Merlot e Pinot e cujo o nome é em homenagem a enorme pedra de 240 metros de altura perto do lugar, onde se reuniam os nativos tehuelches, mapuches, manzaneros e araucanos para tomar decisões, negociar e festejar. Além de bom vinhos e saborosas cervejas, é possível beber água da torneira.

Foi uma noite e tanto. Para o próximo dia, muitas opções!




quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

DICA DE PABLITO


SEM GRAVAR desde 2007, o carioca Eumir Deodato, um dos mais importantes no movimento da Bossa Nova, e um dos arranjadores mais requisitados da atualidade, lançou este ano o excelente álbum The Crossing. Radicado nos Estados Unidos desde os anos 1960, Eumir apresenta um CD de parcerias com músicos como John Tropea, Airto Moreira, Londonbeat, Paco Sery, Billy Cobham, Noveceto e Al Jarreau, de quem sou um grande admirador. Mas melhor do que falar é ouvir no link http://www.youtube.com/watch?v=eOieXwEKt8Y que traz parte de cada música. Um deleite para os ouvidos e un buen regalo para navidad!!!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Será que a bruxa está solta atrás de Noel?

ESTAMOS EM VÉSPERA DE NATAL, a melhor época para vendas, mas aqui em Floripa os vereadores até comercializaram o cargo de presidente da Câmara. O prefeito Dario Berger (PMDB), quem diria, acusa seu fiel colaborador Asael Pereira (PSB) de lhe pedir R$ 300 mil em troca do voto para o candidato da chapa governista, João da Bega (PMDB), derrotado por dois votos na terça à noite durante eleição para presidente da Casa.

À Rádio CBN Asael disse que o prefeito está sendo infantil na grave acusação. E afirmou que seu voto na oposição foi para dar uma maior independência ao Legislativo municipal. Raro não, para quem até segunda era o vice líder de confiança.

Quem poderá desvendar o mistério que fez Asael, o atual vice-líder do Governo Municipal na Câmara de Vereadores, de um dia pra outro, trocar de lado e votar no candidato Jaime Tonello, do DEM, ou seja, da oposição? Boatos afirmam que foi o aceno com grana e cargos em 2011, no novo Governo do Estado, o responsável por fazer o vereador a buscar o dízimo em outras paradas.

Na entrevista, o prefeito afirmou, mas não provou, ter conhecimento que tem vereador de sua base que, horas antes da eleição, recebeu telefonema oferecendo R$ 500 mil para votar contra o Governo Municipal. E se Dario tinha conhecimento por qual motivo não denunciou à Casa a compra de votos na eleição? Será que estava de salto alto dando a vitória como certa?

Quando a bruxa e o Papai Noel se encontram na Ilha em dezembro sempre dá trovoada. No ano passado o bom velhinho tirou do saco e jogou fora a árvore milionária. Será que neste ano foi ele quem jogou uma sacola de dinheiro nos corredores da Câmara?

Cuidado!!! A bruxa está solta e em volta da Praça XV atrás de Noel e olha que ainda nem estamos em Lua Cheia.