Frases

"Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens".
Fernando Pessoa

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Sérgio Jockymann morre em Campinas de insuficiência renal



 Duda Hamilton para Sul21 (http://sul21.com.br/jornal/2011/02/sergio-jockymann-morre-em-campinas-de-insuficiencia-renal/)

O JORNALISTA, romancista, poeta, dramaturgo e ex-deputado Sérgio Jockymann, 80 anos, morreu hoje às 15horas de insuficiência renal, no hospital da Unicamp (SP). Desde o final de novembro ele estava em Campinas, onde vive a filha Luelin, 42 anos, para um tratamento de saúde. Há dois dias ele estava inconsciente devido a complicações do tratamento de diálise que ele vinha se submetendo.
Antes de ir para São Paulo, o jornalista vivia já com a saúde debilitada entre a praia do Campeche, no Sul da Ilha de Santa Catarina, e a praia do Siriú, ao lado de Garopaba, com a mulher Simone, 70 anos. Ele deixa cinco filhas Iria (60), Dafne (58), Heliana (59), do primeiro casamento, e Luelin (42) e  Karel (38), além de netos e bisnetos.
 Segundo Simone, ele andava muito deprimido nos últimos anos por causa da morte do filho André, em 2008, e devido a graves problemas jurídicos. “Ele ficou decepcionado depois de ter perdido em todas as instâncias para a Vivo, que usou um poema seu chamado Os Votos numa mensagem de final de ano, como se fosse do francês Victor Hugo”, conta Simone, acrescentando que o poema foi publicado em 30 de dezembro de 1978, no jornal Folha da Tarde de Porto Alegre, onde ele trabalhava. “Ele não admitia a acusação de que uma obra sua era plágio”, conta ela.
Há um ano Jockymann reagiu um pouco com o nascimento da neta Aurora, filha de Karel. “Ela era a Aurora da minha vida costumava dizer pela manhã quando via o sorriso da menina”, afirma Simone. Sérgio será enterrado amanhã, dia 17, em Campinas, sem qualquer tipo de cerimônia, pois era um pedido seu aos familiares sempre que falava da morte, já que não tinha religião.
Sérgio Jockymann nasceu em Palmeiras das Missões em 1930 e completaria 81 anos em 29 de abril próximo. Jornalista desde os 17 anos passou pelos principais veículos de Comunicação do Rio Grande do Sul, entre eles o Diário de Notícias, Caldas Junior e RBS. Trabalhou também como autor de telenovelas e seriados de TV, além de ser autor de várias peças de teatro, entre elas Caim (1955), Tutu Marambá, Boa tarde, excelência (1962) e Marido, matriz e filial. Em 1980, sua peça teatral Spiros Stragos foi publicada pelo Ministério a Educação e Cultura e obteve o 2º lugar no IX Congresso Nacional de Dramaturgia.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Os últimos dias...

Volta para a fronteira com o Chile. Nesta época a pastagem é recolhida
 para o inverno

Um sapato de Hummer

Dia 10

O mico da viagem ficou por minha conta. Quando chegamos a Trevelin, no domingo à noite para pegar a mala e trocar as roupas empoeiradas por limpas, me dei conta que havia deixado em Futaleufu o cômodo e amado sapato preto de todas as viagens. Nossa primeira reação foi mandar um e-mail para El Barranco e saber se estava lá, prontamente o proprietário retornou dizendo que o sapatinho, que não era de cristal, tinha ficado embaixo da cama. Ao mesmo tempo, Pablo ligou para Juan Pablo e eles combinaram de se encontrar na fronteira entre o Chile e a Argentina.  Muita poeira e curvas me separavam do sapato e até pensei em fazer com que Juan Pablo mandasse para Floripa, mas ele foi contundente: vai sair uns dois ou três pares de sapato. “Te llevo hasta la frontera, sin problemas”.
Lá fomos nós de novo para o Chile numa manhã de segunda-feira muito fresca e com algumas nuvens. Em 35 minutos chegamos ao posto argentino, onde Juan Pablo, com os sapatos na mão, nos esperava na frente de seu Hummer preto. Como ele é bem conhecido na fronteira, nem precisou fazer papelada e nós nem passamos para o outro lado. Nos despedimos mais uma vez depois de uns 10 minutos de boa conversa. Eu que gosto tanto deste carro ainda não tive a oportunidade de viajar num deles, mas meus sapatos “negros” sim.
De volta a Trevelin, já quase às 15 horas, o desafio foi encontrar um lugar para almoçar e seguir viagem até El Bolsón, onde tínhamos combinado um cordeiro patagônio com Fernando. Foi neste dia que comecei a trabalhar, atendendo a solicitação de colegas da Rede Globo e de jornais do centro do país. No primeiro lugar onde li a palavra mágica wi-fi parei para resolver os assuntos de trabalho. Realmente, esta tecnologia é muito boa. Depois passamos por Esquel para pegar a ruta 40, que liga as duas cidades e por onde ainda não tínhamos passado.
                Visual da Ruta 40 entre Esquel e El Bolsón

Diferente das outras estradas, esta é de asfalto e está em bom estado, apenas com muitas curvas e uma paisagem bem diferente do que até então tínhamos visto. Nuvens se espalhavam no céu azul. Fiquei impressionada também com a quantidade de bosques de Pinus - de propriedade do italiano Benetton, dono da rede de lojas com o mesmo nome -  perto de Epuyén, e da distância, de mais de 100 km de Estrada de terra, até Pedra Parada, nome dado ao vinho feito em El Hoyo.
Ao chegar a El Bolson outra surpresa: a cidade fervia. Um montão de gente na rua, muitos carros e trânsito complicado. Fomos direto à casa de Claudio, que não tinha mais cabanas. Dali passamos pelo centro e procuramos um hotel, tudo cheio. Quando a gente se dirigia para o tal cordeiro passamos por um hotel chamado Hielo Azul e lá sim, por sorte, tinha lugar.
Assim como em outros dias em que ficamos em El Bolson, ocorreu apagão das 22h às 23h30. A Argentina está com sérios problemas de energia por falta de investimentos. Tomamos banho a luz de vela e fomos bem felizes com “millones” de estrelas nos traçando o caminho até a parrillada.
Que noite agradável. Além do Fernando, estavam lá quatro pessoas. Marta, deputada radical pela província de Chubut, com seu companheiro, e mais um casal - o bom papo Ezequiel e a namorada, que acredito ser a filha de Marta. A noite foi pequena para o diversificado e animado papo. Rolou de política à música, passando por cinema, minas de urânio, banco Patagônia, Comodoro Rivadávia, vinhos e El Calafate. Ah! Eles querem saber tudo sobre a Dilma e não escondem sua admiração por Lula. Caso fizessem uma pesquisa por aqui, Lula teria muito mais do que os 80% de aprovação dos brasileiros. A situação  para a permanência da presidente Cristina é difícil e a oposição, ou seja, o Partido Radical, já apresentou três candidatos. 2011 é ano de eleição aqui, portanto, tudo pode ocorrer.
Caímos duros na cama e a noite foi curta.



Artesanato e música

As cores e formas de El Bolsón
Dia 11

Na Feira, saboreando cerejas e já com
 o sapatinho
Deixamos o hotel às 11 horas e resolvemos curtir a Feira de Artesanato, que estava muito maior, fazendo a volta em toda a praça. Lá encontramos o Lucas Chiape e o Juan Merlo - organizador do Festival de Jazz de El Bolsón. Outro bom papo, agora só de muita música e bons projetos. Para encerrar a tarde, passada na rádio comunitária, onde às 23horas se apresentava um dos cantores do grupo Patagontchê. Pegamos o início da passagem de som e algumas músicas no pen drive, pois o grupo está com os dois discos esgotados.

A vontade era não sair de lá, mas ficar seria muito arriscado para chegar a Bariloche na outra manhã e entregar o carro e pegar o avião.  Chegamos a Bariloche quase às 22horas e a cabana de frente para o Nahuel estava reservada. Depositamos nossas malas e fomos para o centro comprar lembranças para a família e comer. Muitas lojas ficam abertas até a meia noite, o que realmente faz de Bariloche uma cidade turística e capitalista.  
Na rádio comunitária conferindo Patagontchê
De volta à cabana arrumamos as malas tomando vinho e admirando a lua que estava espelhada no Lago. Uma despedida e tanto dos maravilhosos dias por estas bandas de acá.




A volta...







Dia 12
Manhã gelada com muito vento. Às 9h em ponto estávamos com tudo pronto, depois de deixar queimar as últimas “medias lunas” e devorar as últimas cerejas.

La Cebra,  Bariloche
 Entregamos o carro e Pablo nos levou até o aeroporto, onde o vôo atrasou 20 minutos. Nada grave para quem está em férias e em ritmo lento. Em Buenos Aires muito calor e a espera de 2 horas para pegar o outro vôo até Porto Alegre, que foi tranquilo. Neste espaço de tempo a aquisição de revistas semanais de economia e política e um café.
Em solo gaúcho fomos acolhidos pela sempre querida Verinha Vergo. Para não perder o costume fomos ao Bar do Beto, na Sarmento, ao lado do apartamento do meu irmão. Na mesa, além da Polar e do carreteiro, boas risadas, muitas histórias e o carinho de sempre.


Na Real...

Dia 13

Café da manhã misturado com e-mails e televisão ligada com os desastres na Serra do Rio. Logo caí na real e vi que apenas algumas horas me separavam do dia-a-dia em Floripa. Viagem tranquila, seis horas, com bons trechos duplicados na 101, calor e a curtição dos novos discos - Otros Aires, Ultratango Astornautas e Santullo.
 Perto de Paulo Lopes um acidente que deixou o trânsito bem lento e, logo depois, uma chuvarada de boas vindas. Ao fazer a curva do Morro das Pedras senti aquele cheiro de mar e a certeza que ancorava na Ilha que elegemos há 20 anos para viver.
Ancorando!
Agora é mãos à obra com bons trabalhos, como a inauguração do projeto de usina de energia com ondas do mar, no Nordeste; lançamento de álbum; reedição do livro sobre 1961, com a editora Saraiva. 2011 vai ser muito mais do que 10!!!!

domingo, 9 de janeiro de 2011

Fronteira Argentina/Chile: A Patagônia Verde!




Ventisquero antes do Lago Yelcho e Puerto Piedra, ambos no Chile.


A boa carne da Patagônia Verde

QUASE TRÊS DIAS desconectados por total falta de internet no Chile. Só em Futaleufu que conseguimos wi-fi. Dia 9, a estrada nos aguarda, desta vez pegamos a ruta 40 no retorn
o a El Bolson.


Dia 6, Los Reyes
Fomos ao criatório de trutas do Governo, no Molino e fizemos a trilha das cachoeiras, com direito a piquenique com suco de pomelo e empanadas de carne e de choclo. Tudo estrada de rípio, em bom estado, pelo interior de Trevelin, cidade fundada por galeses.
Era dia de Reyes e também dia da morte de meu pai há 12 anos. Boas lembranças e muita reflexão, pois aqui nesta região ele adoraria ter vindo, muita pesca, inúmeros lagos e, claro, gado Hereford, ovelhas e cavalos crioulos.
No final da tarde, que aqui é das 21h às 22h, banho na piscina em La Estancia, num papo descontraído com a Paula e a Sofia (dona das cabanas) acompanhado de mate e muita risada. Paula, por exemplo, mora em Trevelin, mas trabalha no Banco Patagônia (onde 51% do capital é do Banco do Brasil) de Esquel, distante 20 km e sem trânsito.
Ao escurecer fomos surpreendidos pela Lua Nova caindo nos picos nevados, ficamos os dois admirando até ela se esconder e as estrelas tomarem contam do céu.

Fomos depois jantar na parrilla El Oregón, do simpático Jose Luiz, que leva grupos de pessoas para pescar trutas no verão e faz travessias de 4x4 na neve no inverno, o que deixou o Pablo louco para voltar. Além de boa carne, uma trilha sonora maravilhosa, com o músico Luis Salinas.
Para o outro dia, o roteiro estava pronto: rafting no Rio Corcovado e passagem para o Chile, por dois dias.


Dia 7

A dica era sair da Argentina por Carrelefu/Palena (Chile) e voltar por Futaleufu. Atravessar as estâncias patagônicas repletas de éguas crioulas, gado Hereford e paisagens coloridas foi de tirar o fôlego. Nem a poeira da Estrada ofuscou tanta beleza. Em Lago Rosario, por exemplo, uma das primeiras comunidades Mapuches a explorar o artesanato e, no meio do campo, uma homenagem aos índios.


Ao chegar em Carrelefu uma surpresa: chegamos atrasados ao rafting devido as várias paradas para fotografar. Mas mesmo assim curtimos o rio e vimos como seria emocionante andar entre aqueles paredões.
Sem problemas no passo de fronteira, mas ali deixamos as frutas antes de ingressar no Chile. O limão e duas maçãs deixamos, mas o pêssego comi na hora. Em Palena, no Chile, a casa de turismo nos ofereceu tudo o que precisávamos e resolvemos seguir caminho até Santa Luzia, onde nos indicaram um bom hostal. Em Puerto Ramirez paramos para mais informações e um casal nos informou de uma outra pousada mais perto. Estávamos cansados e empoeirados, nenhum quilômetro de asfalto neste dia.
Quando chegamos em Puerto Piedra ficamos um pouco assustados com o aparência externa do hostal. De dentro da casa surgiu o proprietário, que ao ler nosso pensamento disse: “o que tem lá dentro não tem nada a ver com o que vocês estão vendo. Entrem!!!”. E realmente, ele estava coberto de razão. Muito lindo, limpo e agradável, sem falar nas pessoas que encontramos lá: um casal de argentinos com reserva por 15 dias para pescar e três professoras argentinas que percorriam a região a pé ou de carona e com pesadas mochilas.

Jorge Fly e Pia são ótimos anfitriões. Como o casal tinha reservado, eles serviram a janta para eles. Mas Jorge nos ofereceu o jantar sem pagar, com a condição de que a gente cozinhasse e lavasse toda a louça. Prontamente aceitamos e nos dividimos. Pablito no fogão, Julia e Rocío cortando os temperos e Duda e Malena na louça. Muio divertido tudo, além do papo que rolou sobre pedagogia. As meninas são fãs de Paulo Freire e fazem voluntariado com alfabetização de adultos com um método cubano.
Na hora da janta vinho, sucos e uma massa preparada no fogão a lenha, que nos aqueceu, pois lá fora a temperatura era de 8 graus. Até tentamos chegar à beira do rio, mas o frio era intenso e resolvemos “charlar” na beira do fogão.

Dia 8
Levantei cedinho para fazer o mate, ver os picos nevados e caminhar na beira do Rio, com água inacreditavelmente muito verde. Las “gurisas” argentinas já tinham partido lá pelas 6 horas, pois iam em direção ao Sul do Chile. Pablito, Pia, Jorge e o outro casal dormiam. Ficar em silêncio é uma maravilha e não pensar em nada é uma dádiva!!!! Assim me senti por algumas horas em Puerto Piedra.

Todos foram acordando em seus ritmos para tomar o café. Conversa descontraída e a decisão de que iríamos até Chaitén para ver o desastre deixado pelo vulcão. No caminho paisagens antes nunca vistas, como o Ventisquero (glaciar na terra) e o Lago Yelcho, queremos voltar lá para ficar uns dois dias. Depois, as termas El Amarillo dentro do Parque Nacional El Pumalin, dica de Jorge Fly, que pediu também para levarmos um abraço e um recado para seu amigo que vive dentro do parque numa casa com Bed & Breakfast, muito utilizado por turistas europeus.

Depois de um bom papo regado a café solúvel e bolachas, o mergulho nas termas, com água saindo da vertente a 56 graus. Uma outra torneira de água fria entrava na piscine para a água ficar quase em 40 graus. Logo depois, mais estrada, agora de asfalto até El Chaitén. Quando chegamos o impacto foi grande. A cidade é fantasma e tudo o já tinha lido e visto até então sobre a erupção do vulcão não chegava nem perto da realidade. Depoimento do gerente do posto de gasolina nos impressionou, principalmente, porque ele disse que ali era o melhor lugar para viver.

Antes do vulcão cuspir cinzas viviam ali quase 10 mil pessoas – era a maior cidade da região. Hoje, não passam de 500. Assim que o vulcão deu início a erupção, as autoridades evacuaram a cidade, o que evitou uma tragédia com mortes. A população se refugiou nas cidades próximas, como Futaleufu (que ficou com 20cm de cinzas nas ruas) e Castro (na Ilha Chiloé). Até o ano passado, o governo fornecia um tipo de mesada para os atingidos, cerca de mil dólares por família atingida.
Depois de muita insistência junto às autoridades, alguns moradores estão conseguindo voltar à cidade, que na semana passada recebeu água potável, e até agora possui luz somente graças a geradores a gasolina. A limpeza das cinzas prossegue até hoje, sendo feita, na maioria das vezes, pelos própios moradores. A sensação é estranha ao ver o Pacífico sendo engolido por uns 2km ou mais de cinzas e casas ainda soterradas.
Fiquei minutos e minutos contemplando. Não conseguia tirar os olhos do vulcão, que solta uma fumaça estranha e está em alerta amarelo. Há três meses chegou a estar em alerta “rojo”. Pablo chamou minha atenção de casas com cinza quase até o telhado e outras totalmente enterradas pelas cinzas que baixaram pelo rio. Fiz um filme com o celular, que devo postar assim que chegar em Floripa.
Quase seis horas da tarde e resolvemos seguir caminho, agora em direção a fronteira. Tínhamos como opção ficar novamente no hostal de Jorge ou tentar a sorte em Futaleufu. Na Estrada para a fronteira mais paisagens deslumbrantes, agora com os rios Grande e Futaleufu, considerados a meca do rafting no mundo.
Sem um peso chileno no bolso (deixamos em Chaitén o que tínhamos para colocar gasolina), encontramos o paradisíaco El Barranco Lodge, com cartões, restaurante, piscina, sauna, bicicletas etc e tal. Bem mais caro do que vínhamos pagando até então, mas um dia de rei e rainha até que é bom, ainda mais para descansar, pois tínhamos mais kms de estrada de terra pela frente. Ficamos no El Barranco e ali jantamos uma truta no vapor (Pablito) e eu, para lembrar dos velhos tempos de infância, uma lebre a caçarola, claro que tudo acompanhado com um Carmenere nacional.

Dia 9
Em El Barranco tudo é possível, até porque a diária é diária mesmo, pois se você chegar às 20horas tem direito a ficar até as 20 horas do outro dia. Com isso, aproveitamos para ficar por lá descansando e curtindo o verde e o bom gosto de cada detalhe a nossa volta. Acordamos lá pelas 10horas e fomos direto para o café da manhã, depois fui para o computador baixar as fotos e responder alguns e-mails. Voltamos a dormir!!!
Estava muito quente e resolvemos ficar na piscina, já que estávamos só nós, pois os outros hóspedes foram fazer rafting no Rio Grande. Recarreguei as baterias no sol sem fazer nada, depois nadei, fiquei com caimbra e, na sombra, voltei a me conectar. Outros mergulhos e um banho para pegar a estrada.
Nos despedimos dos proprietários Juan Pablo e Soledad e fomos dar uma volta na pequena e simpática cidade até as 20h30, pois aqui a fronteira fecha às 21 horas.
Na praça uma boa sacada: um gerador eólico e solar carrega o mapa turístico da cidade, que indica os pontos e a distância, bem como lugares para ficar. Isso, acredito eu, bem que poderia ser copiada pelas autoridades de Florianópolis e colocados em vários pontos da cidade. Mas até acho que estou sonhando alto demais!!!
Passagem tranquila pela fronteira, sem revistas, pois o movimento era intenso de ambos os lados. Voltamos para La Estancia, em Trevelin, onde deixamos a mala e os vinhos. Antes de dormir, uma parrilla e a troca de músicas com Jorge Luiz.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Um dia sem nuvens...

Dia 5

ACORDAMOS BEM cedinho para tomar um mate e passear por Esquel. Nos despedimos da simpática Jaqueline, do Esquel Apart, onde ficamos por dois dias, e fomos até a estação de ski La Hoya. Céu límpido e temperatura agradável, mas na medida que íamos subindo o termômetro baixava. Sem palavras para descrever a sensação de estar lá em cima, de ver a cidade em miniatura, além dos cerros cônicos que separam o Chile da Argentina. Acredito que as fotos vão dar a real dimensão da beleza de La Hoya, paraíso dos esquiadores. Ficar lá em cima bem quieta foi uma delícia, uma sensação de paz, de harmonia, de total comunhão com todos os meus sentidos. Ufa!!

Na descida uma ótima surpresa. Pablito enxergou um guanaco pastando na mata nativa. Troquei a lente da máquina e saí a caça do animal. Na medida que baixamos a vegetação foi trocando, dando lugar às lindas carditas e um tipo de minimargarida

Extasiados com tanta beleza voltamos para almoçar em Esquel, lá pelas 14h. A indicação era o Tour D’Argent, na San Martín. Pablito elegeu raviolones de cordeiro e eu truta da casa. Uauuuu uma delícia ou como se diz por aqui “esquisito”.

Depois saímos a caminhar pelo centro de Esquel e conversar com algumas pessoas. Curiosidade: tudo fecha às 13h e volta a abrir às 16h30. Chamou minha atenção uma frase no alto do morro: No a la mina. Logo depois uma placa em uma esquina desvendava o mistério: homenaje a la gloriosa lucha del pueblo de Esquel al cumplirse 1 año de la consulta popular del 23 de marzo del 2003 en la que triunfó el No a la Mina. Na cidade e na região existem muitas minas de ouro a serem exploradas, mas a população se mobilizou e disse não. A batalha, segundo me descreveram, não está totalmente ganha, pois neste ano tem eleições e a lei poderá ser modificada.

Atrás de outras aventuras, principalmente rafting, fomos conversar com o Daniel, um dos guris do EPA, uma agência de turismo de aventura, para combinar um passeio no município de Corcovado. A ideia é passar para o Chile e dar um volta por lá, mas curta, porque nesta região todas as estradas são de terra.

No final da tarde, lá pelas 18h30, nos dirigimos para Trevilin, onde tínhamos reservado uma cabana. Mas para nossa surpresa, a cabana estava alugada e o cara com a maior cara de pau disse que nos esperava até as 19h, eram 19h10. Tentou nos mostrar outra, muito inferior e com o mesmo preço. Mais uma aprontada dos homens argentinos – primeiro foi o gordito do Parque, depois o careca de Trevilin, e agora o rastafari de Trevelin. 10 a zero para as mulheres, que até agora não aprontaram nenhuma.

Sem muito estresse nos dirigimos à oficina de turismo, onde fomos muito bem atendidos e registraram nossa queixa. As meninas entraram em contato com vários donos de cabanas, nos dando três sugestões. Gostamos de uma chamada “La Estancia” – bem simples, pequena e muito aconchegante, com piscina e com o atendimento da simpática Sophia. Até tentamos um mergulho, mas o ar gelado nos impediu. Depois de instalados nos emprestaram duas bicicletas e fomos pedalando até o centro de Trevelin comprar numa rotiseria “milanesas con papas fritas” para a janta, outra delícia gastronômica. No quarto, no qual Pablito tem de andar com a cabeça baixa para não bater no teto, até tentamos assistir um DVD, mas o cansaço foi maior e caímos no sono.



Cartazes espalhados pela cidade mostram a consciência ambiental do povo da região, embora a luta ainda não esteja 100% ganha. É ano de eleições nas províncias.













Um guanaco no caminho.








Marcas da neve e do tempo

La Hoya, o paraíso dos esquiadores.
Na subida de La Hoya: Esquel no primeiro plano e ao fundo a fronteira com o Chile



terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Em total comunhão com a natureza

Glaciar, faltou chegar mais perto








Dia 4

PREOCUPADOS COM A falta de pesos, madrugamos. Ainda bem que tudo deu certo. Depois de ter ido a quatro lugares e ficar uma hora na fila do banco, Pablito conseguiu tirar pesos no caixa eletrônico. O procedimento é o mesmo da retirada nos caixas do Brasil, só que tem um limite em pesos por cartão, e é cobrada uma taxa de $16,00 a cada $1.000,00.

Agora, mais tranquilos e sossegados vamos aproveitar das belezas que se contrapoem com as atuais agruras para com o turismo internacional desta parte da Argentina, coisa que no Brasil também ocorre.

Pouco antes do meio-dia saímos da cabana para mais um piquenique. Desta vez no Parque Nacional Los Alerces, onde ficamos até as 20h30 mergulhados e em plena comunhão com a natureza.

Quando chegamos ao Centro de Visitantes, para deixar escrito nossa insatisfação com a forma pela qual fomos cobrados no dia anterior, e deixar algumas sugestões, fomos surpreendidos ao saber que não deveriam ter cobrado ingresso, pois apenas passaríamos pelo parque. Como tinha tirado foto do funcionário que cobrou, mostrei para a responsável pelo Centro e ela, sem jeito, disse: “Imaginei que era ele, pois não é um funcionário do Parque e sim um concessionário, que pensa mais no lucro no que na divulgação do parque”.

Saímos dali com o dever cumprido e ávidos para explorar o local. O ar puro, o cheiro das flores e da mata, a cor da água (seja no Rio Arrayanes ou no Lago Futalaufquen), o encontro com pessoas simpáticas, o aprendizado nas trilhas, nas inscrições rupestres e no Centro de Visitas do Parque, faz com que se reflita sobre nosso papel no planeta. Este Parque é uma das coisas mais lindas que já vi até hoje e olha que não conheci nem a metade. Ficou faltando a visita ao Glaciar, com a travessia do Lago Menéndez.

Pela entrada Sul do Parque chega-se a hidrelétrica e, claro, fomos conhecer a Futaleufú, bem diferente das que conheço no Brasil, isso sem falar que fica dentro do parque. Ainda com Sol fomos até Trevelín para ver os preços das cabanas. Amanhã, depois de uma volta pelo centro de Esquel vamos pra lá. Um dia e tanto para nós dois.


Lago da Hidrelétrica Futaleufú

Sol, vento e mais belezas naturais no Parque Nacional Los Alerces

O aperto da moeda...

Campos de Esquel







Parque Nacional Los Alerces, o Rio Arrayanes


Em Lago Rivadavia um gaucho patagônico.











Em Epuyén, na Chacra El Nagual, com Jillian e Lucas.
Dia 3
OS PESOS ESTAVAM acabando e a meta era trocar mais para seguir viagem. Depois de passar quase uma hora na fila do banco de La Nación em El Bolsón, nos informaram que não trocam reais, só euros e dólar. Mais uma tentativa, desta vez no Posto Petrobras, que para nossa surpresa ninguém que trabalhava ali sabia o que era Real. Atenção, atenção dona Dilma, assim não seremos o todo poderoso País da América do Sul. Um senhor nos indicou a farmácia El Pueblo, cujos donos eram proprietários da casa de câmbio fechada há um ano mais ou menos. Outra tentativa frustrada.
A notícia nos desanimou, mas mesmo assim resolvemos ir para Esquel, onde duas pessoas informaram que lá tinha uma casa de câmbio. Com 180 pesos no bolso, o equivalente a uns R$ 90,00, saímos de El Bolsón rumo a Esquel, mas com parada em Epuyén para dar um abraço em Lucas Chiappe, dica do manéguaio Oscar Rivas. Foi uma delícia de conversa que poderia durar uns dois dias, numa casa aconchegante no meio do mato.
Ativista ecológico, ele e a mulher vivem desde a década de 1970 no Valle Epuyén, perto da entrada principal do Lago Epuyén. Ela faz artesanato e vende na feira de El Bolsón e ele escreve, escreve, milita, se reúne, lê e cuida do local, além de atender muitos visitantes que por ali passam. Nos mostrou o livro Expedição Natureza Santa Catarina, do Zé Paiva e da Adriana, um presente do Oscar, e contou que quer muito ir ao Brasil no inverno.
Nem notamos, mas as horas voaram. Nos despedimos com a certeza de que logo, logo, voltaremos a nos ver. Seguimos pela estrada com um visual deslumbrante entre picos nevados e rios verdes até chegar no Parque Nacional Los Alerces. Ali tive um chilique, pois ninguém até então informou que precisava pagar para passar pelo parque. Se a gente tivesse esta informação não iria por esta estrada, pois além de mais longe, ela é de terra, ou seja, de ripio, como dizem aqui. Depois de deixar uma queixa escrita no parque, continuamos – eu com vontade de voltar, mas não adiantava, porque o lugar mais perto para trocar dinheiro seria Esquel. Foi aí que senti na pele a máxima: “Deus existe em todos os lugares, mas atende somente em Buenos Aires e no inverno também em Bariloche”.
O que se nota nestas províncias de Rio Negro e Chubut é que o turismo é interno e eles não fazem nenhum esforço para se tornar internacional. Sabedoria ou falta de ambição? Outro problema é que você não consegue informações de uma província para outra. Por exemplo, se estás em Rio Negro, tipo El Bolsón ou Bariloche, eles não informam sobre o Parque Nacional Los Alerces, que fica na província de Chubut, embora a menos de 1 hora de El Bolsón, ou de cabanas ou hotéis em Esquel e Trevlin. Isso atrapalha a viagem. Informações de El Calafate e do Chile, nem pensar, cada um diz uma coisa e bem diferente, o que tem nos deixado inseguros.
Com menos 80 pesos no bolso seguimos viagem, e o que nos acalmou foi a natureza e o silêncio nos 90 km de ripio. Voltaremos lá amanhã, mas com pesos e bastante tempo. Na saída da área do Parque o cenário muda, os lagos dão lugar a campos repletos de gado Hereford (maioria terneiros), cavalos crioulos e morros que contrastam com o céu violeta. Aqui escurece ainda mais tarde, tipo 22horas.
Ao chegar na cidade procuramos hotéis e lugares para comer que aceitassem cartão de crédito. O dia que começou ótimo, bem ecológico, passou por minutos de estresse e acabou maravilhoso à 1h, depois de uma parrilla de terneiro, com direito a matambre recheado e uma cama enorme numa cabana indicada por Daniel, amigo da Wini. Amanhã vamos atrás dos pesos!!!!

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Ainda em El Bolsón...

Puerto Patriada, no Lago Epuyén
No centro da cidade


Na Feira de Artesanato e na descida do Piltriquitron










DIA 2
A META ERA SABER como chegar a El Calafate saindo de El Bolsón: impossível , pois nos restam 10 dias. De carro são 28 horas para ir e mais umas 30 para voltar a Bariloche. De Bariloche até El Calafate por avião vale mais do que a passagem Porto Alegre/Bariloche. Decidimos curtir mais a região, entrar para o Chile por Futaleufu e sair em Chile Chico, e fazer a viagem até o Sul em dezembro incluindo Ushuaia e Rio Gallegos, no Atlântico Sul.
Mais um dia em El Bolsón para ver a Feira de Artesanato, o Mirante do Piltriquitron, o Rio Azul cortando a cidade e a Cabeça do Índio, mas ainda falta muita coisa. Por aqui o turismo é variado, sempre em contato com a natureza, seja de quadriciclo, de cavalo, de carro ou em caminhadas de até quatro horas. Isso sem falar que as pessoas são amáveis e sempre prontas para ajudar e trocar informações.
Na Feira, por exemplo, passamos a metade do dia, olhando os trabalhos, conversando e ouvindo música. Parecia que estava numa comunidade hippie, com jovens e maduros homens canosos fazendo da arte seu modo de vida. Muitos trabalhos bonitos em madeira, prata, cutelaria e flores secas, além de comida saborosa, cervejas e sucos de frutas finas. Maravilhoso o de Arandano, ou seja, Mirtilo, e o de Framboesa.
Com algumas lembranças na mochila fomos para o outro lado da cidade, onde passa o Rio Azul, o que desemboca em Lago Puelo e divide a Argentina do Chile, e que tínhamos visto no passeio de lancha. Mais uma subidinha e estávamos na Cabeça de Índio, mais uma vez tormenta elétrica e não conseguimos subir – 1 hora de caminhada. Mas como nem tudo está perdido conhecemos Julio e Estefania, dois jovens atores argetinos de TV e Teatro. Ele, por exemplo, acabou de chegar de São Paulo, onde gravou a versão Latina do programa Quando o sino toca, para adolescents. Fomos até a cabana deles, um hostel todo reciclado (os vidros eram antigas janelas de camionetes, pedras, pedaços de Madeira, horta, ranário e água da chuva com trutas.
Depois de uns mates com eles e boa conversa seguimos o caminho para o Mirante do Piltriquitron. Bueno, aí fui às alturas literalmente, sensação maravilhosa de paz, de silêncio, com uma vista inigualável, onde você nota uma cordilheira atrás da outra. A temperatura baixou muito, sentimos frio e pegamos os casacos que não saem de dentro do carro. Descemos só quando estava escurecendo lá pelas 22horas, com uma sensação de liberdade incrível.
Antes de dormir passada na padaria La Nona para um chocolate com sanduíche, pastaflora e milhojas. Para o outro dia pegar a Estrada. Voltaremos El Bolsón!!!!!

DIA 1 - ACORDAMOS ÀS 10h aos pés do Piltriquitron com sol forte, céu azul e temperatura perto dos 30 graus. Mochila nas costas fomos atrás de informações para chegar a El Calafate, tudo fechado. Resolvemos relaxar e curtir o dia. Passamos num Mercado para pegar frutas e numa cervejaria para pegar um litro e rumamos para Puerto Patriada, distante 14km em Estrada de terra do centro de El Bolsón. Praia de pedrinhas, água gelada e muita sombra, assim foi o dia até uma tormenta se aproximar e mostrar a força da natureza – raios, vento e pingos grossos. Uma meia hora depois o tempo abriu e resolvemos pegar a Estrada. No meio do caminho avistamos uma cachoeira e logo depois um cartaz: Cascada Sendero La Catarata, de dificuldade media e com subida de mil metros. La fomos nós suar as cervejas e o cordeiro da noite anterior. No início uma delícia, cada vez que você chegava perto da queda d’água baixavam uns 5 graus, logo depois a trilha é íngreme e quente, pois se afasta da água. Lindo o mirante, com uma deslumbrante vista, dali dei volta com Pablito. Na descida outra tormenta, agora com chuva forte, relâmpagos, mas sem vento, bem diferente da que assistimos no Puerto Padriada. Ensopados dos pés à cabeça fomos para casinha tomar uma ducha e jantar no centro, pois já eram quase 21horas, aqui anoitece lá pelas 10horas e amanhece às 5h e pouco. Son días largos.
À noite decidimos começar o ano com pizza – de cogumelos da região e de cebola - e, claro, cerveja Araucana a 50 pesos a jarra de 1 litro e meio. Música ao fundo, com um cantor e uma máquina, tipo karaoke, não incomodou e foi discreto com o repertório de tangos, milongas e música Latina.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Diário de Viagem - Ruta 40 - Argentina





Lago Puelo

DIA 31

QUASE UMA HORA de lancha e rodeada por uma intocável natureza chegamos a mais uma fronteira: a foz do Rio Azul, no Lago Puelo, divisor de águas entre os territórios chileno e argentino. Com uma superfície de quase 28 mil hectares, o Parque Nacional Lago Puelo está desde 1971 independente do Parque Nacional Los Alerces, criado em 1937. Ali estão espécies únicas da floresta Valdiviana, efeitos glaciares causados nas rochas, o Rio Puelo, que desemboca no Oceano Pacífico, trutas, salmões e cervos, além do Cerro Chato, Cerro Cuevas e muito mais.

Quando chegamos o lago estava um espelho. O desejo era mergulhar na água cristalina de 17 graus na superfície. Escolhemos o Aventuras Lacustres de uns guris porque era o único com cartão de crédito, mas ele não funcionou. Ainda bem que existe o logo aceito e valoroso Real, com Pablito fazendo o câmbio. Na ótima companhia dos guris da Aventuras Lacustres - Max e Damián - e mais dois casais de Neuquén fomos abraçados pela natureza por um tempo que eu não consegui precisar.

Se molhar na Cascada Escondida que desce do nevado Cerro Cuevas, boiar e mergulhar na água azul turquesa do Lago e fazer piquenique foram ótimas e únicas sensações. Para encerrar, cordeiro nas brasas, cerveja El Bolsón na geladeira, vinho Pedra Parada no cálice e a tranquilidade e a rusticidade da Patagônia.

O último dia do ano foi de sombra, água fresca, namoro, natureza e muito prazer. Que venha 2011!